A causa e o efeito



Por todos os poros visíveis, que preenchem a sua pele, dos pés à cabeça, pelo suor que deixam escapar, pelos mais pequenos e pelos que irrompem e atormentam a visão ao espelho, escapa então a sua essência.
Não diria doce nem agradável. Qual feromona atractiva a quem se passeie à sua volta. A verdade é que nem a sente. Apenas sabe que, provavelmente, como mais uma coisa que define cada um de nós, lá está. Há quem se borrife, dia-a-dia, com águas perfumadas para a esconder, ou apenas para criar o que lá julga não estar. Ele dirá, talvez, que prefere o natural. Mas quantas vezes afirmamos, com veemência, o que desacreditamos? O que não sentimos?...
O contemplar do tecto para alguns, o pequeno-ecrã para outros, ou ainda o cantar sufocado debaixo dos lençóis para outrém. Faz-nos pensar. Absorve-nos, envolve-nos…Ajuda-nos a expressar. As horas passam e, contudo, aqueles pequenos e simples actos ajudam-nos a esquecer o que deve ser esquecido, a desanuviar do que nos vem a atormentar. Os actos conduzem-nos assim, como se apenas cinco minutos se tivessem passado. Mas, ainda assim, tudo tem as suas proporções saudáveis. Mera verdade, simples, de conhecimento universal. Será verdade normativa ou descritiva? A pergunta fica, os actos mantêm-se. Não é falta de capacidade de mudança. Ou será esta mesma afirmação uma forma de negação? Mesmo que seja inconsciente? Não será certamente falta de oportunidades, sugestões e das mais que comuns opiniões alheias. É o absorver do tempo, o esgotar de um segundo, a falta do estalar de dedos que nos acorda do sonho fictício, e que teima em não vir…
Pequena, de sangue escocês. Com toda uma série de contemplações voando-lhe pela cabeça, nem sempre possíveis de apanhar e explorar. A face é magra, demasiado fina, comprida, ossuda até. Os olhos insaciantes, de quem espera e nunca alcança. De quem procura e, mesmo que encontre, continua a busca desesperada. Continuamos assim todos vivos na nossa zona de conforto. Pequena e de sangue escocês, sim. Como já mencionei. Cabelo claro, fundido com a pele ainda mais clara. Sardas incessantes, lábios finos e a inocência necessária. Já nem sequer sabe se ali está ou se não. Uma dormência constante. Uma cabeça que não pára.
“Virgin Queen!”- diz Kate Blanchett no pequeno ecrã. Ela foca-se, ou pelo menos tenta. Vendo até onde vai a sua concentração, quando ela não pára, numa constante espiral. Procura desfocar tudo o resto. Oh sim, uma luta com os sentidos! Tão nossos e, contudo, tão livres, tão longe do nosso controlo, voam sozinhos. Fazem o que pensamos que nunca conseguiríamos fazer, com uma espontaneidade de que por vezes nos lamentamos. Ah! Se a cabeça parasse um segundo. A cabeça está em todo o lado. Qual ser omnipotente!? Nada disso. Apenas mais uma pessoa que se agarra aos mais pequenos erros, enrola-se nas suas teias e, ou encontra o seu lugar “confortável” , ou ainda não conseguindo tal, também não consegue parar. E assim, deixa o reconforto de um elogio passar como substância volátil. Todos sabemos que lá esteve, mas nunca estivemos na sua presença mais que um mero instante.
Ela ali continua. Ela ali adormeceu. Ela ali acordará e a cabeça continuará a rodar. Voltará ao mesmo ponto, certamente. Os hábitos ou desaparecem ou tornamo-nos neles.

Isa Marques, 11ºE, Escola Secundária de Camões

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