Uma aventura




Cinco silhuetas emergiram das sombras, fazendo a jovem mulher, ofegante e derrotada pelo cansaço, escorregar no piso húmido e aterrar de quadril no asfalto.
A sua respiração acelerada pelo medo, embora ela tentasse de tudo para que tal não acontecesse, ouvia-se na perfeição e gotas de suor percorriam o seu rosto, apesar da brisa gelada que se fazia sentir.

              Os olhos das cinco criaturas, apesar de turvos pela neblina densa, eram de um vermelho vivo tão forte que parecia ficar gravado na visão daqueles que os enxergassem, olhos esses que oscilavam entre a rapariga e uma espada comprida, manchada por uma substância espessa e repugnante, empunhada pela mão enluvada do monstro à direita.

             Levantando-se agilmente, ela encarou as sombras negras, consciente de que não existiria saída para além de enfrentá-las e esperar que elas não conseguissem farejar o seu medo.
             O ar, que tinha agora perdido o seu odor habitual a canela e terra molhada característico da época do ano, rendia-se ao do sangue derramado e ao dos corpos caídos à sua volta.

             Sem saber se a sua família se encontrava no meio dos cadáveres que preenchiam as ruas como folhas caídas das árvores de outono, a adrenalina fazia o seu coração bater descontroladamente e a raiva conferia-lhe uma coragem que ela própria desconhecia ter.
Sentia na boca um sabor desconhecido. Não se recordava de o ter sentido antes, nunca, pelo menos, com tanta intensidade, mas era um sabor desagradável, que a fazia querer deitar as mãos à boca e espalhar pelo chão o conteúdo escasso do seu estômago.
                 Ela sabia que o medo não tinha sabor, mas, se tivesse, com certeza seria aquele.

Clara Monteiro, 10.º L

Comentários

Anónimo disse…
YOU ROCK CLARITA!!!!!!!!!!

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