Pequena Narrativa




A escola tinha sido horrível, mal pus um pé em casa, a minha mãe mandou-me ir arrumar o meu quarto. Mas, afinal, se o quarto é meu por que não posso deixá-lo desarrumado. Para completar o meu dia, perdi o meu mp3 e o cartão de telemóvel. Deviam ser aproximadamente dez horas da noite, quando o meu pai me mandou ir dormir, eu disse-lhe que não tinha sono, mas ele não ligou e disse-me: vai-te deitar e verás que tens sono. Bem, lá fui eu contrariado, mas fui.
Segui o conselho do meu pai, deitei-me e fechei os olhos, passados 30 minutos ainda estava acordado. A teoria do meu pai estava errada. Então, decidi levantar-me, voltei a deitar-me e comecei a contar carneirinhos, cheguei até duzentos e nada de sono. Levantei-me novamente, dirigi-me à janela, e reparei que os estores estavam abertos. Eu odeio dormir com os estores abertos. Mas, como que por curiosidade, puxei os estores para cima, abri a janela e contemplei a lua. Era lua cheia. Ao fim de quarenta minutos a olhar aquele maravilhoso satélite natural, reparei que vinha em minha direcção um objecto. Ao princípio era pequeno, mas começou a aumentar à medida que se aproximava. Num espaço de dez segundos, o objecto desconhecido estava dentro do meu quarto, e eu estava imóvel em cima da minha cama a tremer. Por fim, quando ganhei coragem, fui até ao objecto que parecia uma cápsula gigantesca, e de dentro sai um ser roxo, com grandes orelhas, magro.

- Ah ah ah! – Foi a minha primeira reacção.
- Ah ah ah! – Fez também o desconhecido.
- Quem és tu?
- Quem… és…tu…Ah! Já sei, isto é um terráqueo, português.
- Terráqueo português?! Mas quem és tu, afinal?
- Olá. Desculpa não me ter apresentado. Mas estava tão cansado, vi uma estrada e decidi aterrar.
- O meu quarto não é nenhum estacionamento.
- Isto é um quarto? É o teu quarto?
- Sim, claro. Querias que fosse o quê?
-Não sei. Bem que os meus professores disseram que vocês eram DIFERENTES. Mas não pensei que fossem tanto.
- Bem, já estou a ficar um pouco farto. Quem és tu? Entras no meu quarto e nem dizes quem és. E ainda por cima gozas.
- Oh, desculpa outra vez. É que eu começo a falar e esqueço-me do que as pessoas perguntam.
- Sim, sim…
- O meu nome é Jupi Tariki Mezont.
- Jupi…Tariki o quê?
- Não interessa. Podes-me tratar por Tariki. E tu?
- Eu?! Eu chamo-me Raúl Santos Couto.
- Só? Quero dizer, não tens o nome do teu planeta?
- Não. Para quê?
- Em todos planetas em que fui, eles tinham o nome do planeta e o próprio nome.
- Como assim?
- Por exemplo, eu. Jupi Tariki Mezont. Jupi, porque nasci e vivo em Júpiter, Tariki que é o nome próprio e Mezont é de família.
- Ah sim. Pois aqui na Terra é diferente. Mas tu disseste que vives em Júpiter, como é que percebes e falas português?
- Como falo terraquiano? Nós aprendemos a falar todas as línguas de todos os planetas do Sistema Solar. Deixa-me que te diga que a mais difícil é o mercuriano (planeta Mercúrio).
- Fala-me disso. Nós, terrestres, pensávamos que não havia vida em nenhum planeta, excepto o planeta Terra.
- Pois não é verdade. Eu sou Jupiteriano, estou de férias e os meus os pais foram obrigados, por assim dizer, a deixar-me viajar para outros planetas.
- Que sorte, deixaram-te viajar. A mim não me deixam nem ir ao Porto sozinho.
- Estamos de férias grandes. Acabei o secundário e vou para a faculdade. Eu, por isso, sim, porque isto de continuar a estudar é um trabalho, precisamos de pelo menos um ano de férias.
- Que fixe! Aqui no planeta Terra são três meses.
- O quê? Três meses são as férias do Natal e Ano Novo. Bem, como estava a dizer, os meus pais deixaram-me viajar, também, porque tive óptimas notas a todas as disciplinas.
- E vieste sozinho?
- Não. Quero dizer, mais ou menos. Eu, o Jupi Baryt e o Jupi Corten, decidimos viajar e ir até Mercúrio, até Marte e eu queria vir até à Terra. Mas eles tinham medo de penetrar na atmosfera Terrestre. Eles são um mariquinhas, não é assim que vocês dizem?
- Sim. Mas porque é que eles têm medo?
- Todos os professores de todos os planetas ensinam os alunos a terem medo dos terrestres, porque dizem que vocês destroem a vossa casa, matam todos os animais e até vocês próprios. Eles dizem que vocês são os terroristas do Sistema Solar. Este é o motivo de eles me terem abandonado na vinda para o planeta Terra.
- Terroristas?! Uauh! Então por que vieste? Não tens medo?
- Eu sou pouco céptico, só acredito quando vejo. Por exemplo, lá em Júpiter dizem que, no Planeta Plutão, não há pessoas simpáticas, que não há diversão, que as pessoas são muito frias e distantes. No entanto, eu fui lá aproximadamente há quatro anos atrás e as pessoas de lá foram super simpáticas, pregavam partidas na rua e tudo.
- Sim, existem pessoas antipáticas em todos os planetas.
- É por isso que resolvi conhecer o famoso planeta Azul, cheio de água. E tu já foste ao mais magnífico planeta do Sistema Solar, Júpiter?
-Achas? Claro que não. O máximo que os humanos foram, foi até à Lua e mesmo assim foi complicado.
- Mas tu não tens o T.S.S.Z3?
- E isso o que é?
- Transporte do Sistema Solar, modelo Z3. Isto, o meu meio de transporte.
- Isso mais parece uma grande cápsula toda branca. Não tenho e aposto que ninguém na Terra tem.
- O que fazes quando estás de férias?
- Vou à praia e fico em casa.
- Que seca! Que tal vires comigo dar umas voltas? Vamos e voltamos dentro de sete dias.

Trim…trim…trim. Eram dez horas da manhã quando o meu despertador tocou e quando o meu sonho, tão real, se desvaneceu. Nem quis acreditar que tudo aquilo que ouvi e disse era fruto da minha imaginação. O meu pai afinal tinha razão, mal me deitei, pela segunda vez, adormeci e comecei logo a sonhar. Passei os dois meses seguintes a olhar as janelas de todos os edifícios, à espera de ver o reflexo da tal T.S.S.Z3.

Verónica Fernandes, 11ºE, Escola Secundária de Camões

Comentários

Unknown disse…
Muita criatividade!!! XD

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