Mudança




Nós já devíamos estar habituados à mudança. Completamente. Devia estar inscrito no nosso ADN: “A mudança não surpreenderá nem magoará”.

Mas, infelizmente, não é assim. O Homem é um animal de hábitos, como se costuma dizer. Nós acostumamo-nos àquilo que nos rodeia, seja isso uma rotina diária monótona ou a presença constante de uma mala de viagens e de uma hospedeira. Mas ainda mais importante, nós habituamo-nos às pessoas com quem vivemos, aprendemos como são e a sua maneira de atuar. Mais do que nos habituarmos, começamos a depender delas. É inevitável que se todas as pessoas que conhecemos, de repente, se começarem a comportar de maneira diferente, nós reparemos e fiquemos afetados. Instáveis. Desnorteados.

Mas, se já é desconcertante quando a empregada da papelaria que frequentamos não é alegre como de costume, quão afetados seremos por uma mudança mais acentuada? Mais brusca. Definitiva. Em alguém que nos é próximo.

Pensamos que conhecemos uma pessoa, que conseguimos prever as suas reações, saber as suas opiniões, e orgulhamo-nos desse conhecimento. Um dia, enganamo-nos numa previsão, somos surpreendidos, mas não é nada de extraordinário. Depois, quase que caímos no chão com o choque causado por uma ação completamente inesperada dessa pessoa. Uma opinião disparatada. Uma escolha duvidosa. Uma discussão desnecessária. O choque desaparece, a indignação assenta. Procuramos desesperadamente pela pessoa a que nos tínhamos habituado, em quem dependíamos, procuramo-la através do pó levantado pela mudança. Quando, de repente, fazem algo em concordância com quem eram, pensamos “Sim! Ainda aí estás!”. Mas isso só alimenta a ilusão, até que nos conformamos com o facto de que a personalidade que conhecíamos fora substituída.

E nessa altura?

Bem, o correto seria habituarmo-nos de novo. Aprendermos as novas reações, conhecermos as novas intenções, lidar com as novas preferências e aceitar as novas opiniões.

Mas e se não conseguirmos?

E se a sombra de quem essa pessoa era, da pessoa a que nos tínhamos habituado, não nos deixar dar um passo em frente e aceitar de braços abertos a mudança (como devia vir no nosso ADN), então a mudança é ainda mais drástica.

Não queremos esta nova pessoa por perto.
Afastamo-nos.

Joana Coelho, 11.º D
E, então, é a nossa vez de mudar.

Joana Coelho
11ºD  nº14

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