Espíritos dançantes
O terceiro sol desaparecia
no horizonte.
Os passos da jovem rapariga
ecoavam pela capela vazia e gelada até ela parar em frente ao altar e se
ajoelhar.
O homem moreno estava à sua
espera, com uma expressão indecifrável e um pequeno recipiente decorado com
várias runas, pousado nas suas mãos esqueléticas.
— Vim visitar o meu irmão. —
O silêncio era tão absoluto que a sua voz frágil e suave pareceu agitar o ar.
O homem moreno não disse uma
palavra, em vez disso, esticou a mão na sua direção, um pedido silencioso para
que ela se levantasse.
Ela sabia o que fazer a
seguir.
Rapidamente, a sua mão
delicada e esguia adentrou o líquido do pequeno recipiente.
Segundos depois, o seu
sangue misturava-se com ele, tornando o líquido, anteriormente transparente,
espesso e carmesim.
O homem moreno sorriu.
— Bem-vinda.
Gotas encarnadas mancharam o
chão polido e o homem moreno evaporou-se.
Aos poucos, uma bonita e
envolvente melodia preencheu o espaço à sua volta e levou-a de volta a um tempo
em que não existiam capelas ou homens morenos em capas negras ou silêncio ou
sacrifícios.
Sombras brilhantes movimentaram-se
à sua volta, sussurrando e rindo entre si.
Entre a multidão, avistou o
seu irmão, a sombra mais brilhante de todas, que rodopiava de mão dada com a
sombra brilhante de uma rapariga.
Clara Monteiro, 10.º L
Comentários
Inicialmente a rapariga destina-se para junto do altar, para assim começar o sacrifício, após o acto a rapariga é automaticamente transportada para outro sítio, tal, que só avista sombras e de entre delas a mais bela e reluzente é a de seu irmão, dançando e cantando com uma outra sombra.
É aí que a rapariga se apercebe que seu irmão havia encontrado o lugar onde pertencia.
Este texto faz-me lembrar uma frase, uma frase que se a rapariga conhecesse não se teria sacrificado "querer pelo desejo o que sabe não puder querer pela vontade". Com esta frase a rapariga apenas iria estar com o seu irmão na sua imaginação e não parar de viver para o fazer.