A cadeira



Tinha pernas brilhantes que resplendiam ao contato direto com o sol, pareciam distorcidas pelos anos, pelas personalidades tristes e pesadas que tinham suportado. De uma tristeza mísera, pareciam cavar buracos no terreno macio e mórbido. De um orgulho deslumbrante, pareciam ter resistido a uma tempestade de vidas e ter saído em pé, mais fortes a cada encontrão.
Tinha corpo verdadeiro e material, com uma simplicidade avassaladora, parecia dobrado sobre si próprio, ângulo reto, numa posição de vulnerabilidade dura e constante. Os seus detalhes, as suas cicatrizes, formavam desenhos intricados de beleza, formavam uma melodia de experiência e originalidade que o distinguia.
As suas costas eram direitas e impassíveis, retrato de uma passada bailarina, eram estáticas e tristes numa atitude de abandono. Do mesmo material do corpo, pareciam destruídas por veias de ferro que a percorriam, veias de mágoa e arrependimentos que inflexíveis lhe passavam debaixo da pele, tão forte, a sua potência arrebatadora que são visíveis como linhas vermelhas num mapa.
Sozinha e assustada num quarto escuro e triste e frio, era uma cadeira.

Carolina Blu Bassano Peixoto de Carvalho, 11.º K

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