Um toque de vazio

 



A vida que vivo está sempre ocupada por cores e palavras.

Uma vida bela, mas monótona, nada para estrear nem explorar. Sempre que há algo de novo há quem ache estranho ou se mantenha à distância.

Aqui tudo é belo, das maiores imperfeições de cada planta para as mais sublimes e suaves.

O céu está sempre a mudar, umas vezes é um azul da hortências outras um laranja-girassol, e tanto muda que até as flores têm ciúmes da vaidade do céu e das nuvens que o acompanham.

Nos jardins, onde uns insetos trabalham para se conservarem ou para receberem louvores das flores mais belas, outros estão na galhofada. As flores discutem sobre a cor mais bela, o formato mais elegante ou o mais radiante, das menos apreciadas para as mais amadas, das mais pequenas para as mais altas e elegantes.

A relva a sussurrar com a terra sobre as histórias que as raízes das árvores lhe contam de um outro mundo. Um mundo azul mas vazio, denso mas calmo, um mundo possível de nos perdermos no “fundo”, um lugar com pouca cor, mas a suficiente para nos apaixonarmos pelo sítio, um lugar sem relva, sem flores, poucas árvores, poucos sorrisos e gargalhadas, um lugar de harmonia e suavidade...o mar.

Lentamente, o sol desvia-se do dia, as nuvens seguindo o céu de girassol enquanto o vento aconchega os mantos de flores no jardim e as árvores se preparam para dormir.

Com toda a leveza, com todo o conforto das cores mornas do sol depois de se ter posto, já não se ouvem as gargalhadas dos insetos, nem as conversas das flores. O céu está limpo das cores claras, mas trouxe um ambiente de sossego, a terra, a relva, os montes de encantos de cor adormecem os carinhos da noite e o abrigo da lua.

Na natureza calma, sob uma delicada luz da noite que, com as estrelas como guias iluminam o céu escuro, ouve-se ao fundo mas perto, suave mas forte, num quase-silêncio, no canto de cada sonho, na paz e no conforto, um suave som de ondas que eleva o sono da vida.

Só porque há amor, na beleza no vazio, numa cor, na paz e no sono da natureza.

 

Constança Esmeriz, 11.º F                                                                             

 

Comentários

Anónimo disse…
Espécular.

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