O Peso do Silêncio
Havia um relógio na parede de um pequeno apartamento. Os seus ponteiros giravam monotonamente, dias e noites misturavam-se, e a passagem das horas era apenas uma formalidade. O homem que habitava este apartamento vivia preso num limbo. O mundo seguia o seu rumo, mas ele permanecia imóvel.
Acordava tarde, quase sempre ao meio-dia, mas o despertar era mecânico. Os seus olhos abriam, mas a sua mente permanecia fechada. O teto desgastado acima da sua cama era a primeira coisa que via ao acordar. Era ali que passava minutos, ou seriam horas? - antes de reunir as forças para se levantar.
No apartamento, o silêncio reinava. Não havia o som de risos ou de vozes animadas, apenas o zumbido do motor do frigorífico e o ranger ocasional da madeira à medida que se andava. O homem não trabalhava, não estudava, e há muito tempo que não via amigos nem familiares. A solidão havia-se tornado a sua única companhia.
O seu telemóvel, sempre no canto da mesa, raramente emitia notificações. Às vezes, o homem pegava nele, mas apenas para se situar no tempo. Ele não sabia se era segunda ou quinta, se era dezembro ou março. Tudo parecia um grande amontoado de dias iguais, empilhados na sua memória.
Os poucos momentos de interação que tinha com o mundo exterior eram idas ao supermercado ou à farmácia, lugares onde ele não precisava de dizer mais que duas ou três palavras. Ele sentia-se invisível, como uma sombra que ninguém notava. Ele queria desaparecer, mas, ao mesmo tempo, desejava que alguém notasse a sua ausência.
Por vezes, o homem tentava-se lembrar de quando foi a última vez que se sentiu verdadeiramente vivo. Talvez tenha sido durante um almoço com os amigos. Mas essas memórias agora pareciam distantes, como que de outra pessoa.
Enquanto que o relógio na parede continuava a marcar a passagem dos segundos, ele permanecia ali, imóvel, preso no silêncio que lhe gritava aos ouvidos. Ele desejava um propósito, um motivo para sair, para se levantar, para se reconectar. Mas, por enquanto, tudo o que tinha era o som dos ponteiros, a marcar o tempo de uma vida que ele não vivia, apenas sobrevivia.
Mariana Carvalho, 12.º L
Comentários