Disputa nas profundezas do ser
Bonito dia se apresentara, diante da janela coberta pela minha cara. Olhava para o céu, para os pássaros, para o ramo de árvore cheia de folhas, pensando na sorte que tinham. Não se encontravam presos por nada, mas eu já nem um minuto mais aguentava.
Estava preso pela minha própria máquina, cheia de apegos e fricções. Fricções essas que, mais tarde ou mais cedo, me poriam a reflectir sobre o melhor caminho a tomar. Uma vida de trabalho ou uma vida dedicada apenas aos amigos e às relações sociais?
Dois grandes factores, que estavam sempre presentes na minha cabeça, e que constantemente friccionavam um com o outro, como se fosse uma disputa. De facto, era mesmo isso.
Já desde pequeno que fora presenteado com esta matéria e francamente, tanto pensei, que nunca encontrei resposta. Deixei, então, a partir de um certo dia, de reflectir sobre isto e passei a seguir o fluir dos acontecimentos. A verdade é que nem por este método encontrei resposta…
Alguns anos passaram, e aos poucos comecei a aperceber-me de que era óbvio que não havia resposta para aquela questão. O mais correcto seria uma vida onde aqueles dois factores estivessem presentes.
Como cheguei a esta conclusão? Pois bem, reparei que uma vida de trabalho, de qualquer dos modos implicaria uma vida dedicada aos amigos e relações sociais, devido às convivências com os colegas e os clientes fosse o trabalho que exercesse qual fosse. Se rejeitasse este ponto de vista, o mais certo é que poderia ser reconhecido como uma “besta”, uma vez que alguém que não tem vida social apenas se destrói a si próprio.
Comecei então a trabalhar, no sector da construção. Facilmente chegara a uma posição na qual a minha função era supervisionar uma obra, assegurando-me de que tudo estava bem tal como os gastos nela implícitos. Como era óbvio, este cargo requeria comunicação entre todos os membros da equipa, caso contrário, o projecto não se concluía. Tudo correra bem até ao dia em que me envolvi numa discussão com um colega de trabalho, e tudo isto porque tínhamos diferentes pontos de vista. Foi então que as fricções daquela pergunta, cuja resposta eu pensava já ter encontrado, voltaram.
Nunca pensei que, por uma mínima discussão, aquela sensação de dúvida pudesse voltar, mas voltou. A tal discussão, tendo durado cerca de meia hora, finalmente acalmara. Retomando o meu estado normal, reparei que aquela sensação de dúvida já não permanecia no meu coração. Mas com isto fiquei bem ciente, se não tivesse amigos e uma vida social, estas fricções ter-me-iam levado à minha própria destruição.
Foi então que passei a evitar qualquer discussão, dentro dos possíveis. E quando discutia, certificava-me de que era por um curto espaço de tempo.
João Dias, 11ºE, Escola Secundária de Camões
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