Entre o Visível e o Invisível: em São Roque...


A entrada na cápsula de luxo, de colunas romanas, capelas com suas respectivas confrarias e luxos, faz-nos viajar o olhar. Em que culmina tudo isto? A nossa apreciação individual escolhe então o seu foco de atenção.
Correndo o risco de um desvio de direcção, e até de ser extremamente incoerente, o que, aliás, senti de imediato, mostro então o meu “objecto” de predilecção. Imagens de santos em vibrantes materiais e locais de destaque, cruzes e um Cristo ensanguentado na sua cúpula de vidro estiveram longe de me impressionar. Talvez se deva a uma mistura de ideais e uma diferente apreciação de arte. Entra-se, mas o meu olhar não se fixa em frente, mas sim atrás. Foca-se naquelas grandiosas colunas romanas, poderosas diria eu e no, também ele grandioso, instrumento musical, na harmonia de cores apesar da escuridão. São esses traços, que o guia parece considerar desprezáveis que me fascinam. Com certeza que os mármores italianos, o lápis lázuli e rósea da capela de D.João V são refinados e de beleza extraordinária, mas o meu olhar rapidamente se desvia para o fantástico restauro do soalho, as cores renascem do passado. Observo os restauradores fazendo a sua arte por detrás daquela faixa branca. É isto afinal que me encanta! A arte e a paciência transposta, que traz o passado a dar um olhar à Lisboa já não do séc.XVI, mas sim do séc.XXI.
Diz o guia que “a linguagem do Padre António Vieira nos entra pelos olhos”. A mim entram as cores, o que toque delicado, o requinte! Restauradores e pintores como Francisco Benegas que com um toque de pincel, esteja ele carregado de tinta ou já coberto das poeiras do correr dos anos, conseguem transpor os significados das figuras e fascinar olhares, por vezes devaneantes e perdidos como o meu inicialmente estava ali. Paciência. Pormenor. Composição. É isto que procuro. “Esmiúço” cada pormenor, filtro o que vejo e é esta a soma final. O nosso olhar não tem de se dirigir aos sítios mais óbvios e sim aos que por instantes até nos faz esquecer a voz do guia. É essa a beleza sublime, quando contemos o fôlego num instante de satisfação.
Em suma, foi o simples e inesperado acto de observação do renascer das cores, da matéria enfim, que me fascinou. Poderia ter ficado a observá-los horas. As minhas saudações vão então para os que se escondem por detrás do pano branco, pois sem eles todo aquele luxo altamente reconhecido afundar-se-ia com o decorrer dos anos.

Isa Marques, 11ºE, Escola Secundária de Camões

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