Retórica
Perder alguém importante é uma experiência horrível, não é?
É
como dar um passo. Cruzar uma linha. Entrar por uma porta. Num momento
estamos num sítio, e no seguinte não estamos. Não é gradual, não estamos
preparados. De repente, tudo rui. E nós ficamos atónitos, com os
estilhaços nas mãos.
Primeiro, lembramo-nos porque é que
essa pessoa era importante. Lembramo-nos de pensar que estaria sempre
lá, viesse o que viesse, para nos ajudar. Lembramo-nos de saber que
estaríamos lá para ela custasse o que custasse.
Todas
estas lembranças e esperanças tomam conta da nossa mente, quando a
catástrofe acontece. Tal como a culpa incalculável por ter estragado
tudo. Ou então a indignação e a dor ao tentar entender como é que essa
pessoa, que nos era tão especial, nos pôde de ter magoado de tal
maneira.
Seja qual for a situação, uma bala de canhão
cai-nos no estômago. Perdemos essa pessoa. Ou pior ainda, essa pessoa
perdeu-nos. E não há como voltar atrás.
Mas, mesmo assim, esta não é a pior parte, pois não?
Quando
dói realmente, quando temos de parar e nos segurar a alguma coisa,
quando fechamos os olhos com esperança de que, quando os abrirmos, tudo
tenha sido um sonho, é mais tarde.
Mais tarde, quando
pegamos involuntariamente no telemóvel para falar a essa pessoa sobre o
filme incrível que acabámos de ver, mas nos lembramos de que não pode
ser. Quando queremos chamá-la para estar connosco e rir um bocado,
esquecer os problemas, mas nos apercebemos de que essa pessoa é que é o
nosso problema. Quando passamos pelas molduras que têm a sua fotografia e
as viramos para baixo.
Quando perdemos alguém, essa
pessoa deixa um espaço vazio. Como um livro que mudamos de prateleira.
Essa informação demora algum tempo a entranhar-se em nós, por isso, nós
continuamos a ir àquela prateleira à procura daquele livro, apenas para
encontrar um espaço vazio e nos lembrarmos que ele agora está noutro
sítio. Inevitavelmente, havemos de deixar de ir àquela prateleira e,
quem sabe, talvez até arranjemos um livro novo. Mas o espaço da
prateleira era perfeito para o livro antigo, e o novo livro não encaixa
como devia. Esse espaço que ele não ocupa, esse é o que dói mais.
Mas,
quem sabe, talvez a prateleira acabe por ser arrumada de outra forma, e
o novo livro encaixe bem. Talvez a dor passe a ser só uma dormência.
Talvez a dormência acabe por desaparecer. Pode acontecer…
Não é?
Joana Coelho, 11.º D
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