Talvez
Liberte-se da verdade e ela vos
libertará. Não. Eu, quando decidi tomar a pílula da realidade em vez da pílula
da ilusão, estava simplesmente curiosa. Bem me diziam que a curiosidade matara
o gato. Agora, sinto-me aprisionado neste mundo repleto de verdades desumanas.
Não me consigo desapegar delas. Tenho saudades de olhar para as árvores como
objeto de pureza, mas agora sei que elas são tão fracas como a mente humana,
que vive nesta verdade e apenas se «abana» sobre ela. Mas elas não sentem, são
intuitivas, e é por isso que eu as menciono. Sinto um peso enorme nos meus
ombros. Quem me dera viver na ilusão. Não me sentiria culpada, nem tão pouco
tapada. Era mais feliz na minha verdade. Quero ser como as árvores, como os
minerais e como o mar. Todos eles fazem parte da natureza que não possui uma
consciência. É muito difícil viver com ela, pois aprisiona-nos; não nos
liberta. E as árvores; as árvores independentemente da verdade crescem com o
sol, estimuladas também pela terra e hidratadas pela água. Enfim. Vivem em
harmonia silenciosa com o resto da Natureza. Contudo não poderei dizer que a
admiro, pois a minha espécie faz parte
dela. É intrigante como eu amo os meus desejos, tal como as minhas vontades e
destas faço vontade de sedentarismo não carnal, neste mundo voluptuoso. Penso
que seja a paz e a ingenuidade que as árvores detêm que me fazem ter inveja
delas. Mas não posso alimentar esse desejo. Assim não me libertarei. Nem da
verdade, nem da ilusão. Porque, afinal, o que é isso de viver? Talvez seja
sentir intensamente a dor, e desta maneira desenvolver desejos que incutem,
paradoxalmente, um sentimento contrário. Talvez.
Comentários