Marés

 

  


                        

 Tenho um certo medo do mar. Tão intenso, tempestuoso, tão profundo.

  Há quem goste de nele nadar, mas só na sua calma, com pouca agitação, água límpida, conchas bonitas pousadas no areal… É nos dias de calmaria que qualquer um nele mergulha, no entanto, só as conchas mais visíveis se tornam acessíveis àqueles que apenas na sua clareza se atrevem a flutuar. E as outras? E o resto? O restante fica submerso quando a maré sobe e, quem em tempos neste mesmo oceano nadou, não se atreve agora a nele molhar os pés. As conchas que se avistavam à beira mar deram lugar a pedras grandes que pesam, pesam bastante, pedras essas que do fundo foram arrastadas até à costa.

  Enquanto a essência do oceano se esconde por debaixo de uma maré de incerteza, espero que os despojos, que do meu fundo foram movidos, não sejam suficientes para te impedir de explorar todo o meu oceano. Espero que te orientes tão bem nas minhas vagas mais turvas como nas mais nítidas. Espero que mergulhes em mim sem receio, sem receio de todos os meus receios. Espero que todo este peso não pese tanto em mim, com a tua leveza a flutuar no meu oceano. Espero que, mesmo que distinta, vejas nas pedras alguma da beleza das conchas e espero, espero, que não te assustes com toda esta profundidade.

  Eu espero, espero por ti.


Inês Paulino, 11.º F

Comentários

Anónimo disse…
Relacionei-me com a beleza neste texto e com o sentimento retratado.
Anónimo disse…
Texto profundo, que vai muito para além do óbvio. Muito bem estruturado e com vocabulário rico. Adoro a transição entre as partes em que falas do mar e em que o tempestuoso mar passas a ser tu ;)

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