Anagnórise




Às vezes penso no que é que crescer significa, especificamente. No que é que nos torna adultos. Ter 18 anos? Tomar conta de alguém? Ter responsabilidades? Trabalhar? Quando é que chega a altura em que deixam de nos dizer “és muito novo” ou “quando fores mais velho percebes”?



Eu conheço crianças que tiveram mais contacto com dor e desespero do que a maioria dos adultos, portanto, não, não deve ser a perceção da dor que nos torna crescidos.



Ter alguém por quem somos responsáveis parece-me algo muito adulto. Mas, então, e os adolescentes que têm de tomar conta dos irmãos mais novos, esses são adultos? Ou só adolescentes com responsabilidades?



Então e se esse adolescente cometer um erro ao tomar conta do irmão, então e se nós não estivermos à altura das nossas responsabilidades?



Errar é o que nos torna humanos, sim, mas será que também está relacionado com a nossa maturidade?



Eu acho que, para se resolver esta questão, é preciso considerar duas situações: a primeira sendo que algumas pessoas crescem demasiado cedo e a segunda que há pessoas que nunca crescem. E isso percebe-se pela sua relação com os erros.



As crianças partem alguma coisa enquanto estão a brincar e dizem: “a culpa foi da Maria!”.

Os adolescentes têm más notas e dizem que os professores não sabem explicar.

Os professores têm turmas com maus resultados e dizem que os alunos não estudam.

Os universitários repetem semestres porque “quem é que achou por bem marcar aquela festa para o dia antes do exame?”.

Mulheres ou homens adúlteros desculpam-se, de joelhos, dizendo: “Ele/ela é que me provocou!”.



Honestamente, que tipo de pessoa é que, hoje em dia, e, na nossa sociedade, quando confrontado, não hesita em dizer: “Sim, senhor, a culpa foi minha e eu estou disposto a lidar com as consequências.”?



Bom, eu penso que apenas os adultos.



Ter carta de condução não nos torna adultos. Ter um acidente e recusar-se a tirar o carro da estrada, dizendo que “Ele é que me bateu!” não é ser adulto.



Trabalhar não nos torna adultos. Gastar salários inteiros em roupa, sapatos, brincos e maquilhagem, não é ser adulto.



Comer de tudo e não ser esquisito não nos torna adultos.

Ter um bebé aos 17 anos e dá-lo para adoção ou ficar com ele mas deixá-lo com os pais enquanto se vai a uma discoteca acompanhada (não pelo pai da criança) não nos torna adultos.



Ser responsável por um país e recusar-se a aceitar as culpas pelos seus problemas não é ser-se adulto.



Dizer “um dia, quando fores mais velho, vais perceber” não nos faz adultos.



Ter a coragem de admitir os seus erros, isso é ser adulto.



E há menos adultos por aí do que se pensa, não há?





Joana Coelho,11.º D

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