Fonte de Esperança

   

   Ela continuou a correr. Nada a deteve, nada se interpôs no seu caminho. Olhou para trás e viu a Forma a debater-se, alastrar-se e aproximar-se, o medo percorreu cada fibra do seu ser. Mas continuou a correr. O cheiro a maresia intensificava-se, os seus pés chapinhavam a água, estava quase lá. O cabelo esvoaçava na suave brisa, respirava com dificuldade, a garganta em chamas, o corpo dormente, a cabeça a latejar. A escuridão adensava-se, parecendo capaz de engolir o mundo todo. A coragem e força que antes a preenchiam, que a guiavam, desvaneciam-se lentamente, definhando-a por dentro. Por fim viu a luz, a esperança, sentiu um calor a irradiar de dentro de si como se transportasse o próprio Sol. Tentou correr mais depressa, tentou alcançá-la. Um clarão ofuscou a noite e as forças deixaram-na por momentos, um tremor sacudiu o seu minúsculo corpo e sentiu-se a cair, a desintegrar-se. Um grito de gelar os ossos irrompeu pelo vazio e, com terror, percebeu que era o seu. Conseguiu amparar-se numa rocha, antes de se estatelar no chão. As mãos rasparam a superfície, e sentiu uma dor pungente nas palmas. Sacudiu por instantes a areia, recomeçando imediatamente a correr e, finalmente a viu, erguida acima do nível da água, resplandecente. A Ponte. Atravessou e, com um suspiro, a luz envolveu-a por fim. 

Verónica Ingham, 11.º H