O SABOR DA MAÇÃ

 




Acordei, como sempre. O meu quarto está igual, como estava quando me deitei: paredes, teto, chão, porta e cama. Levantei-me e sentei-me no sofá a ver televisão, só mesmo para me distrair. Nunca me interessei com a programação, sejam filmes, séries ou notícias, para mim, são apenas entretenimento para me distrair do que me rodeia. Não que odeie o que está à minha volta, mas são simplesmente mundanas. De certa forma, a televisão também é assim.

Preenchi uns ficheiros hoje. Às vezes questiono-me se estou no cubículo certo ou se estou no de um dos meus colegas. Tem alguma piada sempre que acontece. Mas será que faria alguma diferença se realmente estivesse num outro cubículo igual ao meu, com o mesmo computador, sentado na mesma cadeira, a usar as mesmas roupas e penteado que as pessoas daqui também usam? Não sei.

A caminho de casa um sujeito aproximou-se de mim. Estava a usar uma vestimenta com cores particulares e interessantes. Eu de fato e gravata cinzas e ele assim. Perguntou-me se alguma vez tinha saboreado uma maçã, estranhamente. “Mas é claro, toda a gente come maçãs”, disse eu. “Não perguntei se já tinhas comido uma maçã antes… Olha, há esta macieira ali do outro lado da cidade, deixa-me levar-te lá!”, disse ele com um certo tom de voz. “Tens de caminhar pela vida.” Eu ia recusar, mas esta última frase intrigou-me. Percebi parte do que ele quis dizer, acho eu… Aceitei.

“Ia dizer para trazeres apenas o essencial, mas isso tu já tens. Só preciso que venhas ver a macieira.” Ainda não percebi o objetivo daquilo. Já vejo árvores todos os dias. O sujeito levou-me por um passadiço que passava por um parque. Lá está, são árvores por todo o lado, o que é que fará uma macieira? “Vais ver que vale a pena”, disse ele. “O caminho é longo, temos mesmo que fazer isto?” “Sim, o caminho é longo, já começas a perceber…” Este sujeito é cá uma coisa, é que é com cada resposta que ele tem…

Andámos, andámos, andámos, e finalmente chegámos. E o que está lá? Uma árvore. Uma macieira, sim, mas uma árvore é uma árvore. Não percebi. Arranquei uma maçã de um dos ramos. “Vamos lá, saboreia”, disse ele. Eu trinquei e testei… testei… saboreei… é uma maçã, como as outras, sim, mas… diferente… olhei para ela… a luz refletida na sua superfície, repleta de minúsculos pontos que mal podem ser vistos… o sujeito desapareceu… agora eu é que estou a usar a roupa dele! Realmente, que caminho fizemos… adoro o ardor nos meus pés! Adoro esta maçã, esta macieira, este tudo! A relva tem padrões e sombras bonitas com detalhes esbeltos, e as nuvens, e as pedras! São todas diferentes e únicas!

Voltei a perguntar-me aquela questão da diferença entre os cubículos, se realmente faria muita diferença se trabalhasse no do lado ou no do canto, em vez do meu. Sim, faz diferença…


Joaquim Queiroz, 10.º F


Comentários

Anónimo disse…
Muito bem!! A nossa turma achou a tua escrita bonita, e com um toque individual.
Anónimo disse…
Gostei como este texto mostra que temos de aproveitar melhor cada momento.

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