Pequenas Coisas
Hoje, quando vinha para casa, à saída do metro, encontrei, como de facto encontro sempre, uma senhora idosa sentada nas escadas que nos levam de volta à superfície. Pediu-me uns míseros cêntimos como pede sempre, com o mesmo argumento de sempre – Tenha a gentileza de ajudar uma pobre mulher.
Todos os dias finjo que não a vejo, todos os dias me custa voltar as costas, mas hoje, especialmente hoje, não sei porquê, custou-me muito mais do que nos outros dias. E por isso, em vez de seguir o meu caminho, parei um pouco afastada, dum ângulo em que ela não me conseguia ver, mas de onde eu a conseguia observar a sua mínima expressão.
Ao contrário do que a minha mãe sempre me disse, que a maior parte das pessoas que pedem nas ruas são aldrabões, pobres e mal agradecidos e que não são os que realmente necessitam, eu vos garanto que esta mulher não o era.
Reparei pela primeira vez, porque nunca tinha tido coragem de a observar, que quando pedia tinha um olhar de acanhada e envergonhada. Quando as pessoas passavam por ela, com se não existisse, ela mantinha-se quieta, mas notava-se a sua tristeza; quando lhe davam qualquer moedita, por menos valor que tivesse, ela mostrava gratidão como se dum tesouro tratasse. Mas, quando a olhavam com um olhar impertinente e a julgavam como se fosse um ser inferior, ela encolhia-se como se aqueles olhares a ferissem como facas afiadas e, por fim, tapava-se até só se notarem os seus pequenos olhos mirrados de um azul pálido, gasto pelo decorrer dos anos.
Tocou-me ver aquela figura humilhada, fiquei profundamente sensibilizada, primeiro hesitei no passo, mas depois tive a certeza, dirigi-me de volta à entrada do metro e coloquei uma moeda na pequena caixa de madeira.
Talvez tenha sido egoísta por me sentir lindamente depois de dar a moeda, mas que mais poderia eu fazer?
Maria Carolina Martinho, 11ºE, Escola Secundária de Camões
Comentários
Bom trabalho =D