Dorian Gray


“Os únicos artistas que já conheci, que eram encantadores pessoalmente, eram maus artistas. Bons artistas vivem simplesmente no que fazem, e como consequência de tal são perfeitamente desinteressantes no que são. Um grande poeta, um poeta realmente bom, é a menos poética de todas as criaturas. Mas poetas inferiores são absolutamente fascinantes.”
Lord Henry, Retrato de Dorian Gray

Óscar Wilde diz-nos, através de Lord Henry, toda uma série de coisas altamente disputáveis, com uma linguagem que transcende por completo a beleza que tantos escritores tentam incessantemente integrar nas suas palavras. O ar escapa-nos, o encanto é constante, eterno e intemporal.
Integrar-se-ia Óscar neste círculo de verdadeiros artistas? Daqueles que vivem no livro que escrevem, no óleo e nas aguarelas das suas telas, na ópera que compuseram… A arte é expressão, e aqueles que tentam desesperadamente transmitir todo o seu potencial para grandes obras e não o conseguem tentam fazer da sua própria vida a mais sublime obra de arte. O desejo intenso de se exprimirem, e o constante falhanço que deste desejo se segue, fá-los compensar exteriormente, na esperança que vejam o artista que neles há. Como quem erra e tenta uma compensação exagerada. Como quem planeia já a sua obra em vez de deixá-la fluir, deixá-la escapar dos dedos quase inconsciente e que, quase sempre insatisfeito com o que deles escapa, se separa instantes desta apenas na esperança de que quando volte lá esteja, em pinceladas fortes demarcadas, aquilo que sentia, a sua visão. Muitas são as vezes que se desilude. Oh, o quanto sabem de arte os que não a conseguem produzir! Como diz o velho cliché, quem não sabe fazer ensina. Sabem de arte, sabem da sua história e dos seus artistas. Sabem fazê-la nascer? Claramente não.
Aqueles que são os verdadeiros e mais extraordinários artistas não têm este aspecto pitoresco, talvez apenas demente ou estranho para quem os observa de fora da sua bolha. Aqueles que cortam uma orelha, ou de grandes bigodes. Aqueles que escrevem um romance fantasioso e talvez ainda nele vivam rodeados de fadas e elfos, aqueles intimidados em apresentar a sua obra ao mundo porque demasiado de si foi posto nela. Aqueles que são génios no que fazem, que encontram o seu lugar de conforto quando têm a máquina fotográfica na mão ou o pincel nos dedos. Tudo o que são é expresso ali, afinal de contas, para que tenha realmente significado e, como qualquer outra coisa, implica empenho. Absorção, para quem pretende um auto-retrato. Nada resta para o mundo exterior senão a análise daquele que nunca nada conseguiu fazer e, ainda assim, critica, ou aquele abismado com a qualidade daquilo que lhe passa pelos olhos, os que talvez alguma vez tentaram criar o seu mundo imaginário, mas acabam, amargamente ou não, por se aperceber que terão de se contentar com aquele que os rodeia. Mas ainda assim perguntam como é que alguém que faz arte com substância consegue ser completamente desinteressante frente-a-frente. O que tem a dizer não diz pela boca.
Tudo isto pode ser discutido? Certamente. Mas Wilde, como um destes artistas, em tudo o que escreveu, em tudo o que alguma vez disse, consegue fazer parar e que o escutem, e poucos o fizeram, fazem ou alguma vez o farão como ele.

Isa Marques, 11ºE, Escola Secundária de Camões

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