Sem Título --
“Clonk.”
Ecoa o paradigmático ruído da porta que então contra a corrente de ar se insurgia – naquela sinfonia temporal que, então, tarde, e cedo, mais se não caracteriza; como que assombra o espaço.
Doce o retrato de destreza exibido pelo homem que atrás do balcão, com o seu imponente utensílio, dirigia um hino ao talento gastronómico; faz e desfaz os ingredientes como que deles o próprio criador fosse.
O outro, como que em plena sinergia actuasse, poeta do prato, poeta da travessa, e da mais conceituada bandeja, ao lado do outro, compunha, num espectáculo ilustre de cores e formas, coloria de formas e jeitos qualquer fosse a apetitosa iguaria que o seu parceiro produzisse.
E numa passagem modesta, naquela rua para além do cruzamento e após a esquina, praticavam os dois este seu ofício; naquele restaurante que pouco mais de meia portinha tinha.
Procurando obter o seu sustento, e munidos de um verdadeiro apogeu de artes na cozinha, os dois praticavam ao máximo este seu trabalho; munidos de uma incomensurável, porém, pouca reputação, levavam a cargo o último dos seus saberes a qualquer cliente que se dignificasse; a qualquer cliente serviriam qualquer prato, garantiam, qualquer prato que fosse.
Fruto (ou causa) da velha rotina, ecoa a porta que assenta com um leve estrondo. O vulto que a trespassa dirige-se casualmente ao balcão onde os dois velhos artistas da gastronomia repousam. Levando a mãos aos bolsos, retira uma fotografia e, num movimento algo agitado, coloca-a na desgastada superfície.
Um dos homens para lá da mesa dirige-se então à misteriosa figura. Pergunta-lhe de que é que ele deseja ser servido.
Responde apenas o homem:
“… Justiça.”
Gonçalo Gomes,11º D, Escola Secundária de Camões
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