Almas gémeas
Tantas vezes achamos que temos as pessoas certas connosco, que essas pessoas são a melhor companhia que alguma vez conseguíamos ter arranjado, que com elas nada, mas mesmo nada, vai falhar, que estarão aqui sempre para o que precisarmos e que nunca nos desiludirão, que temos connosco as melhores pessoas do mundo. Achamos que só elas nos entendem, que são a nossa alma gémea, o nosso outro “eu”, o nosso verdadeiro amigo e que tudo isso durará para sempre.
Passamos os melhores momentos, que nunca nos imaginaríamos a passar com qualquer outra pessoa, porque para nós “aquele” amigo é como um anjo, que deve ser guardado só para nós.
Identificamo-nos tanto, que chegamos a pensar que nada nem ninguém nos poderá afastar de quem tanto gostamos, porque o sentimento é demasiado forte para ser quebrado.
“Amor” não será a palavra certa, mas sim “amizade”, porque foi isso que foi capaz de nos tornar num só pensamento, em almas gémeas.
No entanto, a verdade é que aquela pessoa que nós tomamos por ser a nossa alma gémea, por vezes, faz-nos tão bem, que não pode ficar para sempre agarrada a nós.
Cheguei à conclusão, que essa pessoa a quem tanto nos apegamos apenas veio para nos abrir os olhos e nos conseguir encaminhar na direcção da felicidade. Foi a nossa espécie de anjo da guarda da vida, que se lembrou de nos fazer uma visitinha quando nós batemos lá bem fundo e precisávamos de uma pequena ajudinha para redescobrir tudo o que tínhamos de bom na nossa vida e a nos fazer ganhar novamente um pouco de amor-próprio. Deu-nos toda a atenção que nos podia dar, dispensou talvez momentos importantes da sua vida, para viver connosco e por nós, chorar e rir connosco.
Mas, na verdade, o nosso amigo não iria querer que nós nos lamentássemos daquilo que acabamos por perder, mas sim daquilo que ainda temos para ganhar, e quem sabe um dia ele não estará novamente nessa conquista da felicidade, quem sabe? A vida é uma surpresa constante. Nunca saberemos o que poderá vir a acontecer amanhã.
Nunca esquecemos o que passámos, mas a verdade é que isso já lá vai no passado, porque aquela pessoa que nos veio abrir os olhos para a felicidade e vivê-la um pouco connosco, já não está aqui, partiu para outro lugar, e embora, por vezes, esse lugar seja bem perto de nós, já não nos pertence, pertence agora a outra pessoa que talvez também precisasse de um pequeno abanão para a felicidade, como nós já levámos, que talvez precisasse de um pouco de atenção.
Agora o nosso amigo voou-nos das mãos, e já não temos o dever de cuidar dele, porque ele também já não cuida de nós.
Agora cabe-nos a nós ir procurar a nossa própria felicidade e talvez encontremos até outro amigo especial que nos seja capaz de mostrar um outro lado da felicidade em conjunto e que seja capaz de nos pôr um sorriso de orelha a orelha, quando o que mais queremos é chorar até não termos mais forças para mais nada.
Ana Margarida Fonseca Raposo, 10ºE
Comentários