Individualismo



Eu uso regularmente o metro como meio de transporte para fazer deslocações para quase todos os sítios aonde eu vou. Sempre que eu entro no metro, quando ainda os lugares estão quase todos desocupados, costumo reparar que cada passageiro escolheu sentar-se num lugar onde não havia mais ninguém por perto. Entretanto eu sento-me às vezes por coincidência num lugar ao pé de outro passageiro.Quando entra outro passageiro para o metro, ele evita sentar-se ao lado de outras pessoas e tenta sempre encontrar um lugar onde não haja ninguém por perto. Eu, às vezes, pergunto a mim mesmo se as pessoas não se querem sentar ao meu lado por algum motivo, mas reparo que as pessoas tentam evitar-se, só querem ficar no seu canto e não querem ser incomodadas, parece que sinto um sentimento de individualismo no ar. 

Outro episódio que me fez sempre sentir esse sentimento de individualismo é quando entra alguém com necessidades económicas e que é portador de alguma deficiência. Então, este indivíduo entra e começa a pedir esmola e eu noto que quase ninguém ajuda esta pobre pessoa. Como é que é possível um homem percorrer o metro inteiro e ter no seu recipiente umas míseras moedas? Eu ao ver isto começo a matutar no assunto e começo a discutir na minha cabeça se aquelas pessoas não têm uma pequena moeda para dar, ou, se de facto têm e não querem é ajudar o seu semelhante no meio do sofrimento. 

Um dia estava eu a dirigir-me para a escola e estava a subir as escadas rolantes, quando, de repente, sinto o meu irmão mais novo a vir para cima de mim. Felizmente estávamos os dois a segurar com força o corrimão, evitando assim uma espalhafatosa queda. Eu começo a olhar ao meu redor e vejo que um senhor idoso tinha escorregado e estava a cair, então para ele não “ mandar uma grande queda”, agarrou a senhora que estava à sua frente. Depois a senhora ao fazer um esforço agarrando o corrimão, vira-se para trás e diz:” O que está a fazer? LARGUE-ME.” Em vez de a senhora tentar ajudar o senhor ajudando-o a levantar-se, diz-lhe aquilo. Passado um bocado, alguém, que estava mais abaixo, gritou para as pessoas que estavam a assistir lá de baixo para fazerem alguma coisa em vez de estarem especados a olhar. Consequentemente, alguém carregou num botão e fez parar as escadas. Assim, depois de toda a gente estar a salvo, uma senhora que eu desconfio que seja a senhora que foi agarrada pelo senhor que estava em apuros, reclamou: “ E você nem agradece”. Quer dizer, o jovem que fez parar as escadas não reclamou pela ingratidão daquele senhor e a outra senhora que nem fez muito para ajudar, estava a reclamar. Passado algum tempo (eu estava na paragem dos autocarros fazendo-me acompanhar pelo meu irmão) passa um senhor e pergunta-nos se fomos nós que causámos aquele espalhafato todo. Nós respondemos que não; o senhor continuou a seguir o seu rumo rindo-se do que tinha acontecido. Eu começo-me a questionar acerca da simplicidade das pessoas e da sua simpatia, acho que as pessoas andam tão ocupadas nas suas vidas que nem têm disposição para pensar nos outros, senão em si próprias, e algumas ainda se riem dos outros como foi o caso.


Falco Silva, 10.º F

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