FANTASMA




Por mais que eu tente escrever sobre ti, é impossível. Eu tento, e tento. Eu mudo as palavras, tento acertar na métrica, tento sonetos, poemas sem rimas e até com rimas. Tento textos, monólogos, poemas.
Apesar de todas estas tentativas, há sempre algo que falta. Comecei por me culpar: sim, é algo que eu não consigo descrever; falta de talento; falta de inspiração, talvez. Procurei no dicionário por palavras novas, tentei tantas vezes.
Fosse em papel, fosse no computador. Por mais que eu tentasse, tudo o que eu escrevia, apesar de não ser vazio, parecia que não estava simplesmente completo. Como assim? Parecia que faltava algo.
Demorei a aperceber-me do que era.
Reli todos os rascunhos no meu computador, procurei em todos os cadernos pequenos textos escritos em momentos de reflexão. Investiguei, cheguei a uma conclusão: apesar da minha provável falta de talento, ou falta de inspiração de momento, o que me falta és tu.
Não estou a conseguir escrever sobre algo que eu ainda não conheço de momento. Tudo em ti é um mistério. Podia falar sobre os teus olhos, mas de que eles me interessam de momento se eles ainda não me conhecem? Podia escrever sobre a maneira como mexes no teu cabelo, mas do que eu saberei sobre isso? O que eu sei sobre ti?
Não consigo escrever sobre um fantasma que eu ainda não vejo claramente. Tudo em ti me suscita curiosidade, algo que não costumo sentir pelas pessoas. Normalmente conheço as pessoas por observá-las de longe, mas não posso fazer isso contigo. Tudo o que eu sei sobre ti depende do que tu dizes, do que tu mostras ser. Como é que eu posso acreditar em tudo?
E, mais uma vez, tu impedes-me de chegar a uma conclusão.



Ana Catarina Preto,  11.º J 

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