Homem desconhecido duma qualquer pintura da 2ª Grande Guerra
Teus lábios sabem a petróleo requeimado,
nas furnas da tua alma,
vomitado e consumido de novo,
dada a escassez de alimento,
dada a escuridão de tonalidades de cores da guerra,
dado o frio do espaço entre a tua pele e a camisa excessivamente grande,
que te fora dada, ainda eras uma criança,
dado os dados humanos que coordenam peças humanas neste grande jogo de tabuleiro,
dado o sangue que derramaste,
proveniente de feridas tuas e dos corpos decepados dos outros,
e do espelho da tua alma que espelha o teu passado,
no teu rosto cansado,
no teu andar arrastado e em tua voz mumificada,
em tua testa martirizada.
Tua palavra interrompida,
por sucessivos gaguejamentos,
incertezas, por momentos,
do motivo que te leva a estar vivo.
A guerra molda, modifica,
e tolda-nos de uma cor visceral de jazigos desventrados por corpos dizimados,
matéria apenas,
como no princípio,
em que a única coisa que nos separava,
era as diferenças no rubor nas diferentes faces dos nossos progenitores.
A linha do teu maxilar tem o formato das linhas das trincheiras que percorreste,
como disse,
a guerra molda,
formata,
mata,
é ingrata,
mais que chata,
barata, na sua essência,
mas cara em vidas humanas,
e cara na carência filha da violência,
e cara na resplandecência da podridão da consciência,
encantadora no brilho da subconsciência,
numa sinapse explosiva que gera indecência,
numa sinapse espontânea de um dobrar de esquina para a demência,
numa sinapse instantânea que leva à existência,
e na não-sinapse que nos leva à inexistência,
ou nos mantém anestesiados até ao fim dos tempos.
Pedro Gomes, 11.º G
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