DESordenada





Um Baltasar e uma Blimunda.
Um arco e uma flecha.
Uma seta e um pelouro.
Um dedo e um dedal.
Uma retracção,
Consequente retenção,
Só ligeira omissão.
Cada passo traz seu par,
Não há volta a dar.

Dorme Baltasar.
Desperta Blimunda.
Mais um gesto de par-a-par,
Idealístico acordar,
Nesta beleza angular,
Sem formas para calcular,
Tudo se forma sem o observar.

Intenso, impetuoso, fervoroso.
O contorno grandioso,
Do maneta belicoso,
Cresce formoso.

Nos olhos uma Blimunda,
Blimunda profunda,
Que de profundidade crescente,
Deste retrato se entende,
Traz maré enchente.

Se um corre, outro vai de encontro,
Mas não se vende ao marasmo o conto,
Nesta repetição, neste reconto,
Não se faz como outros oito.

Um José e uma Pilar.
Criaturas da sensação não-dormente,
O quase inexistente,
Que em apelo adolescente,
Em encanto tão inerente,
Só não perdoa quem a não sente.

O agarrar dos animais
Não compõe a animalidade dos demais.
Se para uns está contida,
Sabe-se lá se sentida,
Para quem o faz
Há ainda quem se contrafaz,
Porque, no egoísmo universal,
Quem se leva ao natural,
Quem se faz do prazer matinal,
É por quem por contenção é mortal
Tratado como desigual.

Da contra-história nasce a história,
Da coisa em si sua antítese,
Não se vai por resumo ou síntese,
Ou se lê e se consente,
Daí um engana, outro mente
E, se há ainda quem se contente,
É porque não trabalha no que sente.

Maldita heresia,
Estás aqui em demasia!
Oh tu, brutal obscenidade,
Brutal no teu mal,
Mal descomunal,
Superficialidade abismal,
Ignorância intemporal.
Não leva ela o gesto animal,
O instinto carnal,
O relaxamento irracional,
A rédea solta do cordão universal,
Num apelo ao banal,
Como acto de castigo infernal,
De tom invernal,
De quem quer, mas não tem igual.

Não há criança a compor,
Só o agarrar sem torpor,
Sem motivo ulterior.
Oh estóico, não fujas à dor!
Faz-te tu também deste calor,
Não lhe tires a cor.

E o pobre filosofa,
E o que estudos não tem,
Nem tão pouco o ar de desdém,
Fala como não há quem,
Quem tão pouco sabe de onde provém.

Esta constante procura de interpretação,
A que se deita a solta mão,
Mão de quem julga achar satisfação,
A pouco o leva senão,
Um senão que não traz união,
Um senão que precisa de demão.

Sem trabalhada faculdade,
Fazemo-nos do que corre no sangue,
Do que não é exangue,
Do que não há quem comande.

E se palavras não há,
E se o argumento é circular,
Quando se encontra o que o encanto conta,
Não há meio por onde pegar.
Se a vontade a Blimunda pertence,
Tão pouco se consente
Que eu, no meu gesto ausente,
Fale e mente
Do que ainda não se pressente.

Quimera ao nascente,
No avançar do presente,
Faz-te do que é veemente.
Oh Blimunda, ama!
Não esperes por quem aclama.

Isa Marques, 12ºC

Comentários

Mensagens populares