Era uma vez alguém



Era uma vez alguém.

Alguém que tinha um grande espírito crítico. Alguém que, por conseguinte, tinha sempre algo a dizer. Podia afirmar invenções já descobertas, tais como, por exemplo, “O Sol é amarelo” ou “A Lua tem crateras”.

Fazia da sua voz, a voz de todos. Sentia que precisava de falar e mostrar que ser ouvido é algo muito relativo.

Quando, infelizmente, descobriu que o falar era algo relativo, calou-se.

Até ao fundo do seu silêncio, pronunciava palavras ocultas para o seu pequeno mundo. Daí, todos começaram a sentir a falta de ouvir, o que quer que fosse, desejando que ele apenas falasse como habitualmente fazia. Afinal, ele pensara que era tudo muito relativo, pois não era devidamente ouvido.

Assim que sentiram saudades, o alguém tinha-se calado e tinha voltado para o seu pequeno mundo interior e apenas contactava para dentro, onde sabia que a sua alma lhe era fiel.


Era uma vez alguém. 


Marta Godinho, 10.º I

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