Jardim das flores





Lembro-me daquele jardim, amplo mas acolhedor, simples, mas colorido...Um pequeno mundo de pétalas, folhas e caules de imensas formas, tamanhos, tonalidades, poderia ser um sítio quase feliz, não fosse eu sentir-me tão só.

Havia flores campestres, leves e divertidas para as festas familiares nas quintas das avós, ou então, flores suaves e elegantes cheias esperança no futuro, flores apaixonadas que dão encanto aos casamentos.

Havia margaridas para o aniversário da Beatriz, violetas pequenas e delicadas para a primeira comunhão do Luís, elaboradas coroas para os dias mais tristes.

Era como se todas as flores daquele jardim pudessem responder a um pedido, a um pedido ,a um desejo, fosse ele qual fosse...bom, todas menos uma.

Inicialmente altiva, talvez, confesso, um pouco arrogante, via com desinteresse aquela excitação de risos e gestos excessivos de quem se aproximava. Nem o vermelho escuro, veludo, das minhas pétalas as atraía. Com o tempo assumi que talvez temessem os meus espinhos, eu era, afinal, uma rosa que impunha respeito e, fatalmente, impunha distância.

O tempo, a solidão e a tristeza deram mais cor ao vermelho profundo das minhas pétalas e passados dois invernos eu estava mais firme, forte e mais só que nunca.

Ele entrou de rompante puxando-a pela mão, percorreu o jardim com um olhar e, sem hesitar, correu a minha direção. Com respiração ofegante e as faces coradas arrancou-me sem medo, de um gesto só e olhando-a nos olhos disse:

- Eva, eu gosto de ti.

 

Constança Esmeriz, 11.º F  

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