Carta a Ninguém



Um pedaço de papel à deriva no mar parece algo extremamente improvável. A água salgada ensoparia a carta e esta nunca chegaria a nenhum destinatário. Mas, por qualquer razão, uma carta, dobrada e fechada numa garrafa de vidro bem selada, é o meio de transporte perfeito para aquilo que tenho a dizer.
Porque o mar é o meu reflexo. Porque o oceano tem a cor e transparência perfeitas dos teus olhos. Porque o mar é o local perfeito para memórias perdidas. Porque o oceano é imprevisível e temperamental, perfeito para carregar uma mensagem destinada a qualquer pessoa, ou talvez a nenhuma. Uma verdadeira carta a ninguém. Porque é o mar que nos divide. Porque é este imenso oceano que sempre nos apartará.
E porque esta é uma carta a todos ou a ninguém, é também uma carta sobre tudo, ou mesmo sobre nada. Nesta carta exponho a minha alma. Exponho ou escondo ainda mais, cabe ao leitor compreender. Cabe a ninguém decifrá-la.
Porque esta é uma carta a ninguém.
E Ninguém a compreenderá.

Rita Catarina Ramos Amador, 10ºE

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