Esperança



 

Pela altura em que a minha idade se podia contar somente pelos dedos das mãos,

lembro-me de ir dormir antes do sol se pôr,

de me protegerem do período noturno como se experienciá-lo fosse em vão.

Todos insistiam para que aproveitasse a luz do dia

e ai de mim se dissesse que não.

Nunca questionei o porquê de o fazerem

até ao dia em que, secretamente, os desafiei.

Fiquei acordado até anoitecer

sem desconfiar do terror que viria a ser.

Por um tempo observei as estrelas, a lua, mas por mais bonitos que fossem já esperava ansiosamente o amanhecer.

A escuridão havia consumido a lembrança do sol, das cores,

de tudo o que, no dia, me costumava dar prazer.

Todos juravam a pés juntos que o ciclo do dia e da noite, da noite e do dia, estava a decorrer- mas tal eu não era capaz de ver.

A certo ponto desisti de tentar.

Conformei-me com a vista, os sons, a dor de me encontrar preso na sombra em que me havia, a mim mesmo, colocado

e só passado muito, muito tempo,

é que me cansei de viver cansado.

Larguei os maus hábitos e decidi, finalmente,

levantar a persiana do quarto.

Apesar de estar perra, lá consegui.

Depois de tantos anos a enterrar-me no sofrimento, sobrevivi.

Então, apesar de muitas vezes ainda passar a noite acordado,

ela acaba e o dia começa,

outra vez um ciclo controlado.


Diogo Sousa, 11.º L 

Comentários

Anónimo disse…
Obrigado por nos dares esperança de um novo dia. Moveu-nos e comoveu-nos.

Mensagens populares