Fragmentos




Estes dias já não são meus.
 O meu corpo tem-me agora; e, dolorosamente, estou a desaparecer. O trapo que visto já não é a minha carne, mas a minha essência. Recomeçam as horas sem identidade pálidas na sua nudez, escuras e longínquas, mas tão perto, que quase sufocam se existisse forma de fugir ao labirinto. Sou o animal. Estou doente agora, como dantes. Essa misticidade desonesta e suja que nem dá a cara, que não paga impostos, que não sabe o que é a dor da carne!  e que tem necessidade sempre de mostrar que é maior que eu, que me tem, que eu não sou nada! Bebe na minha dor o teu prazer, e leva o meu corpo morto. Deixa-me sem forma, sem cheiro, sem nada concreto. Deixa-me ser. 

O luar preenche a sala
O luar preenche a sala. Uma luz fraca e quente define os contornos do fumo que dança no vácuo. Os sorrisos pálidos entristecem-me, mas não da forma ingénua que a tristeza toma alguém, esta tristeza não corrói  os meus sentidos, esta tristeza quase que sorri ao luar e acompanha-me na minha felicidade como um irmão mais velho que assiste ao outro. As cores desfazem-se e mostram-me o seu vácuo, enquanto os barulhos fogem na vergonha de saberem que não são ouvidos no universo. Tudo são cinzas. Tenho vergonha de já nem sentir, de sorrir ao amor sem ele me tocar, dizer que tive prazer. Mas sorrio.



Mariana Ferreira, 12.º H

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