Prodigar e procumbir




Ai, eu não quero viver na Utopia de Thomas Moore!
Ai, não me façam isso, não!
A momentânea beliscadela,
O burlesco beliscão,
A ligeira sensação,
A constante comichão.
Não me faças isso, não!

O que digo eu?
O que dizes tu?
O que dizemos nós?
Nada. E o nada abala,
Exime, esquiva,
Corre, evita,
Isenta, desobriga.

Torces contornos,
Sagazes, medonhos,
Crescem engonhos no nada que somos.

Não te oiço.
Não me ouves.
Não nos ouvimos.
Sílabas esgotantes,
Palavras dissonantes,
Retratos berrantes,
Desgostos constantes.
Que fazes tu para além dos restantes?

Extravasa-me o sentido,
Tira-me o sustenido,
Desmascara-me o senão.
O que há é mera ostentação.

Foge-me da mão,
Copula com a confusão,
Triste, solene emigração.
O que fazes tu então?
Megera contentação,
Moderna prosternação,
Qual satisfação?

O reflexo a nada conduz,
Descansas em contraluz.
E daqui, o que se deduz?
Se pouco me compus,
Foi porque nada supus.

O faz, o não faz, o devia fazer.
O queria ser, o merecia poder, o queria viver.

Despia-lhe as mãos.
Despia-lhes os dedos.
Esqueçam os enredos,
Se bem os conheço,
Não servem nem para os começos.


Fazia ele.
Fazias tu.
Fazíamos nós.
Nada fazemos.

Isa Marques, 12ºC

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