Texto de opinião face à frase de Manuel Alegre “sou um português errante a caminhar/em busca do país que não se encontra”
A universalidade de uma obra talvez seja sinal de uma boa interpretação por parte de um de nós. A intemporalidade desta também não se fica por menores elogios. Mas se é rápida a constatação de que foi uma boa observação, até que ponto nos podemos felicitar pelo método do “faz a mesma coisa e espera um resultado diferente”? Não terá sido este que levou à intemporalidade da obra?
O autor faz observações, o autor percebe a raça humana e, como tal, tece os seus comentários. A questão é, ele fê-lo só para o tempo presente, o presente dele, e a nossa inércia ao longo dos anos fez o resto ou, mais uma vez, conhecendo bem a natureza dos nossos actos, aqui apresentados como previsíveis, mais ou menos, consoante o génio de quem escreve, calculou que se daria algo cíclico, como uma teoria do Retorno do Nietzsche, em que, se voltássemos atrás, faríamos precisamente a mesma coisa? Livros com ensinamentos não faltam, casos já estudados, analisados e reanalisados também não. Mas resultado, onde andas tu? Ficamos todos sentados à espera que se faça, à espera que se diga…Só a azeitona e o vinho nos fica na mão, da boca escapam-nos interpelações de como é necessário um novo ponto de orientação, um novo caminho, que se abram janelas e portas, daquelas grandes e de uma maneira dramática, quase teatral, um fenomenal plano em contraluz. Sim, sim, todos temos a imagem na cabeça mas, e daí? Que é feito, mais uma vez, do resultado? Estas não se abrem sozinhas, pois claro! E quem na mão tem os prazeres do inerte, não passará disso, um inerte. Aqui está o português vacilante, e o país que procura é aquele que se constrói sozinho. É isto ser português? Nascer em Portugal? Quanto mais passivo melhor, parece o lema…Eu fui feito português e português ficarei. “Olha, porque sim”.
Já se tomou a posição do vacilante que se encerra no vacilo, agora falarei daquele que é arrastado pelos ventos e empurrões destes mesmos, que tropeçam, se agarram ao ar frágil e, pois claro, este não segura nada, e ainda caem e levam de arrasto os outros. Aquele que tem as ideias, aquele que tem soluções, aquele que pouco pode fazer sozinho. E não faço aqui nenhum pedido de misericórdia, e não digo “oh coitadinho”. Faz parte, constrói uma pele dura, noventa por cento das vezes são tentativas e dez por cento concretizações, se tanto. De que lhe serviria alcançar algo facilmente se, logo de seguida, vacilasse como não havia vacilado antes? Sim, porque a parte complicada virá sempre, nem sempre o acaso nos dá um empurrão, nem sempre nos puxa para cima. O melhor é mesmo tomar uma atitude activa nesta área. E agora, o caminhante errante, vagabundo, que tropeça no chão marcado e gasto pelos milhões de tropeções, não se consegue levantar. Este chão já não serve de apoio, se se levanta tropeça e cai como se em gelo caminhasse. E lá fica, sentado no chão, gritando e divagando, mas se não tem quem um método arranje para o tirar dali, ou pelo menos quem passe a palavra gritada, nunca será mais do que um monólogo. Triste vida a deste, o país que busca e não encontra é aquele em que se trabalha em conjunto, como na “Utopia”, mas só na parte do trabalho de grupo, em que está tudo tão bem distribuído que o que ganha ali não serve como sustento de vida, o próprio trabalho vem entre aspas. O trabalho no campo não é aquele que lhe dá tudo, nem os estudos. Faz de tudo e tudo se distribui uniformemente. Um sustento em comum, sem os desencantos do ouro e da prata, ou pelo menos na teoria, já que, mesmo nesta que foi uma bem construída utopia, se vê as suas falhas. E aqui o português é quem? Aquele que mesmo face a constante desilusão continua a tentar levantar-se? Insiste, bate com a cabeça na parede e tenta outra vez? O que é isso de ser português?
Passou-se do português no papel ao português de espírito, mesmo que este lhe tente escapar à desgarrada. É o que vive em Portugal? É o que faz de si uma parte de Portugal? Tentativa e erro. Tentativa e erro. Continuaremos sem resposta por ser uma questão complexa, ou estaremos nós também a cometer a falácia de fazer a mesma coisa e esperar um resultado diferente? A constante auto-análise em vez do seguimento de um instinto? Faz parte, a lógica não vem sem motivo aparente. Mas até que ponto a definição é importante, até que ponto a etiqueta faz de quem quer que seja aquilo que é?
Isa Marques, 12ºC
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