A Lenda de Alice



Lady Alice era uma jovem como qualquer outra. Do topo dos seus dezasseis anos, completados no dia vinte e um de outubro, era já considerada o ser mais belo e enigmático das redondezas. Residia numa majestosa quinta na Serra de Sintra com a família, sempre rodeada de criados e governantas que criaram a menina com os máximos cuidados para que tivesse a boa graça de uma rapariga de boas famílias. A mãe, uma mulher de costumes rígidos e pouca paciência, não gostava de ouvir a criança a chorar, desde pequena que a menina estava habituada a que lhe fossem feitas todas as vontades. Acima disso, a mulher não gostava que em sua casa se ouvisse qualquer tipo de barulho alto, e foi por essa razão que Alice, desde pequena, ganhou o brio de fazer tudo pela calada. Aos cinco anos de idade havia-se já tornado numa criança esquiva e furtiva. Brincava pelos jardins serra fora sem que ninguém soubesse do seu paradeiro desde a hora do almoço até à da ceia. Ao mesmo tempo, por ver que bastava fazer barulho para que lhe satisfizessem os caprichos, aprendeu a ser uma jovem teimosa e altiva em frente àqueles que a deveriam manter a todo o custo satisfeita, para que a senhora não a ouvisse.

Esta era Lady Alice em portas fechadas. No entanto, vaidosa como ninguém, perante outras pessoas era uma jovem dama perfeita e, auxiliada por uma beleza simples e incomparável, encantava com um temperamento calmo e uma voz doce e suave aqueles quantos conhecia. Era uma jovem ardilosa, tinha a perfeita noção de que as mulheres invejavam a sua beleza e os homens a olhavam encantados, e utilizava-o sempre a seu favor.

Não seria, então, minimamente surpreendente que vários jovens homens se encontrassem perdidos de encantos por este ser místico. Não eram raras as vezes que um ou outro se encontravam com Alice pelos recantos da quinta. Diz-se que era íntima de vários, talvez mais de cinco. Mas sabe-se que quando as lendas passam de pessoa em pessoa, há a tendência de exagerar os factos. Mas quem conta esta versão da lenda sabe bem que, naquele verão de 1985, Alice julgava-se irrevogavelmente apaixonada por dois brilhantes jovens.

O primeiro era um jovem homem de negócios que se refugiava na zona para passar tempos livres. Encontraram-se pela primeira vez quando foi convidado especial num dos famosos bailes na Casa das Violetas. Era um homem de respeito, em todo o lado exceto quando estava a sós com Alice. Estava perdido de amores pela rapariga dos cabelos escuros e olhos claros, a rebelde e irrepreensível mulher que se tornaram em portas fechadas, ainda mais que a senhora perfeita que era em público.

O segundo era uma alma rebelde, tal e qual Alice. Fugia com ela por entre a serra e passavam horas perdidos, qual duas crianças que encontram conforto nos braços da natureza. Conhecia a Alice que não era senhora mas apenas uma selvagem. Encontrou-a por acaso na serra, no meio de uma chuva torrencial no outono anterior, e desde então fora arrebatado pelo mistério e enigma que ela emanava, pelos lábios vermelhos e pelos pés descalços com que Alice gostava de passear.

(Continua…)

Rita Amador ,12.ºE

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