Deriva
Vejo-as a aprender,
a falar, a descobrirem quem são, a rir, a chorar e a sonharem com o céu que
nunca viram e eu estou ali, deitada, mas não nado. Estou a boiar, a flutuar,
mas não perfeitamente:.
Consigo sentir a
água nos meus ouvidos, querendo-me puxar para baixo. Chego a muitas vezes ao
fundo do oceano e observo as pessoas a andarem no local onde eu estava. Eu
estava ali.
O
fundo do mar é muito mais bonito, mas mais escuro. Eu não vejo onde estou. Eu
não entendo porque estou ali, porque o meu corpo dói tanto, porque não consigo
respirar. Não consigo respirar, mas não quero sair dali. Está a magoar-me, mas
é tão bonito. No fundo de tudo não está ninguém, não importa o quanto
olho para os lados. Será que sou a única que se deixa afundar?
Não me acho diferente, não me acho única.
Acho-me fraca.
Vejo as pessoas a caminharem por onde eu
estava e pergunto-me se mudou alguma coisa. Pergunto-me se era menos doloroso
estar à deriva e convenço-me que talvez me consiga levantar depois de chegar ao
topo, e nado com todas as minhas forças até à superfície. Respiro finalmente o ar fresco e sinto-me
aliviada, recuperada.
Mas eu sei que vou estar sempre deitada, à
deriva.
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