Deriva









 Vejo-as a aprender, a falar, a descobrirem quem são, a rir, a chorar e a sonharem com o céu que nunca viram e eu estou ali, deitada, mas não nado. Estou a boiar, a flutuar, mas não perfeitamente:.


 O fundo do mar é muito mais bonito, mas mais escuro. Eu não vejo onde estou. Eu não entendo porque estou ali, porque o meu corpo dói tanto, porque não consigo respirar. Não consigo respirar, mas não quero sair dali. Está a magoar-me, mas é tão bonito. No fundo de tudo não está ninguém, não importa o quanto olho para os lados. Será que sou a única que se deixa afundar?

 Não me acho diferente, não me acho única. Acho-me fraca.

 Vejo as pessoas a caminharem por onde eu estava e pergunto-me se mudou alguma coisa. Pergunto-me se era menos doloroso estar à deriva e convenço-me que talvez me consiga levantar depois de chegar ao topo, e nado com todas as minhas forças até à superfície.    Respiro finalmente o ar fresco e sinto-me aliviada, recuperada.

 Mas eu sei que vou estar sempre deitada, à deriva.

 

 Ana Catarina Preto, 11.º J

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