Se a Arte Falasse
Cheguei do trabalho tarde nessa
noite e arrastei-me a mim mesmo até ao apartamento. Contudo, em vez de me ir
deitar, decidi servir-me uma bebida e ficar a observar as luzes da cidade a
partir da minha janela. Descalcei os sapatos e acomodei-me na minha cadeira
preferida, após ter ligado a rádio numa estação de música clássica. Pareceu-me
uma boa maneira de acabar a noite.
Uma música de fundo começou a tocar.
Gostei dela, por isso aumentei o volume para aproveitar a cem por cento a sinfonia que
saída das colunas. Depressa fiquei totalmente envolvido na música. Com uma
bebida na mão, mexia a outra como se estivesse a conduzir a orquestra.
Ao olhar para a parede, reparei no
meu quadro com o grande Leonard Bernstein.
- Estás a olhar para mim? –
perguntei, em tom de brincadeira.
- Não há mais ninguém aqui para onde
olhar.
- Devo ter bebido demasiado… Bem, eu
vou-me deitar. De manhã já não me devo lembrar deste momento de insanidade
mental. Ter uma conversa com um quadro não é algo que esteja a planear
relembrar.
- Fica mais um pouco e aprecia a
música comigo… quase consegues ver as pinturas, certo?
- Sim, quase.
- Usa a tua imaginação. É a única
maneira de realmente apreciar a música. Observa-a e sente-a no fundo da tua
alma. É essa a verdadeira beleza na arte.
Fechei os olhos por breves momentos.
Quando os voltei a abrir, a minha coleção de arte pessoal tinha-se
transformado. Cada pintura que Mussorgsky tinha captado na sua sinfonia estava
pendurada na parede. Acompanhei a música de pintura a pintura até haver
silêncio.
Mariana
Negrão, 11.º H
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Beatriz