Uma folha em branco
Jurava que era
só sentar-me com a folha à frente e as palavras surgiriam, mas
enganei-me. Olhar para uma folha
branca não me fazia imaginar as palavras no ar, muito menos uma história.
Sempre achei
que a escrita fosse um porto seguro, que iria ter sempre algo para escrever,
mas, afinal, fui levada pela corrente, ou melhor, deixei-me levar. Procuro
ideias cativantes, nada demasiado pessoal, nada demasiado triste, algo
interessante, mas o que é que eu tenho? Uma folha em branco.Num mundo fictício,
bastava pedir a um feiticeiro que lançasse um feitiço de criatividade e tudo
estaria resolvido.
No fim de um
livro, devia existir uma porta, que fosse aberta para dar vida às personagens.
Gostava de
saber como é que cada escritor lida com os seus bloqueios. Não gosto de os
imaginar preocupados, prefiro imaginar que têm tudo sob controlo, que se sentam
numa cadeira na varanda, com um café na mão a ler um livro, e que, no momento
certo, a ideia brilhante, vai aparecer de forma inesperada.
Por vezes, chego
a pensar que cada escritor passava por uma prova que eu desconhecia, talvez uma
prova intensa que nos livrasse de encravar, se ao menos eu tivesse realizado
essa prova, não estaria a tentar resolver este problema.
Escrevo, mas
nada faz aquele clique. Não devia ser algo complicado, certo? Se uns escrevem
livros, porque é que eu não consigo escrever um mero texto de uma folha? É
intrigante. O que será que causa estes bloqueios? Se houvesse uma pessoa encarregue
destes bloqueios, eu gostava que ela respondesse às minhas questões. Não seria
rude, escrevia-lhe uma carta bastante formal a expor todas as minhas dúvidas e
perguntas e, depois aguardaria uma resposta. Talvez não fosse uma pessoa com
ideias maléficas, se calhar, estava à procura de emprego e aceitou o primeiro
que apareceu, quem sabe, teria de esperar pela sua carta.
Agora reparo que a folha de que me queixava, deixou de ser branca.
Ana Marta Rato,
10.º K
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