Preocupações




Com os olhos a darem o sinal de cansaço que o meu corpo sente, não desisto da minha vigília solitária. Tenho os meus olhos raiados de sangue das noites sem conta em que já não durmo. Angústia mil. Um olhar antes vivo, agora morto, quase em jeito de desafio ao próprio espectro do ceifador que retira o último sopro dos pulmões de cada um. Imagens de mil vidas passam pela minha visão como se estivessem mesmo diante de mim. Uma sub-realidade provocada pelos sofrimentos que um mero mortal tem de suportar.
Um breve deslumbre no espelho, que está à minha frente, revela uns olhos enterrados nas órbitas, secos, porque toda a humidade neles existente já foi libertada em forma de lágrimas que mancham o meu rosto. Sinais exteriores de uma tempestade interior. O que provoca esta tempestade? Não tenho resposta para esta pergunta. Isso… isso já começa a ser uma situação normal, aquela em que, não sei porquê, insisto em deixar que a dor tome conta do meu ser.
Uma pessoa como eu pode passar o tempo a olhar para o seu interior e não sabe realmente o que está a acontecer. Apenas sabe que algo não está completamente correcto. O que será? As dores provocadas pelas preocupações do dia-a-dia podem ser um dos pontos da origem desta tortura diária. Mas não. Para mim, essas preocupações estão bem definidas, por esse motivo sei que não vale a pena perder o sono nesses pequenos detalhes. Pequenas coisas que podem magoar quem não está a contar com elas. Mas, para quem está, nada diz. De certeza que não é aquilo que eu sei que está a acontecer, ou aquilo que sei que tenho de fazer, que me mete medo. Não. Nada disso Esses problemas que eu carrego já estão definidos, com forma própria, eu já tenho consciência da sua existência, e sei que tenho tempo de descobrir a solução para resolver a questão.
Mas, então, se não é o certo que me deixa neste estado, será o quê? Creio que só pode ser o incerto. Faz bastante sentido. Para quê preocupar-me com aquilo que já sei? Em relação a isso já não existe muito que possa fazer, eu ando a perder o sono com aquilo que ainda está por vir. Isso, sim, é motivo para andar preocupada. Pelo simples facto de não saber aquilo que está a caminho, e por não saber como vou lidar com as situações. Qualquer pessoa que tenha preocupações deve pensar isso.
Será, que não tenho razão? Uma pessoa afirma que tem problemas para resolver, mas o simples facto de saber que esses problemas existem, já é meio caminho percorrido para encontrar a solução.
É aquilo que está para vir que deve ser alvo da nossa preocupação.

Joana Carvalho, 11ºD, Escola Secundária de Camões

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