Silêncio



Dou os meus passos pela cidade de Lisboa. Caminho naquela confusão citadina que todos nós conhecemos ou de que já ouvimos falar. E sucedeu que uma vez, no meio de toda essa agitação, pousei os meus olhos numa frase peculiar, era de Almada Negreiros que afirmava que se alimentava do silêncio.
Veio-me logo à cabeça o contraste, pois estava no ambiente ideal para isso. Nós hoje já não nos alimentamos do silêncio, a verdade é que, muito pelo contrário, fugimos dele! Ligamos a televisão, quando estamos sozinhos em casa, mesmo que não olhemos para ela; levamos música, quando prevemos uma viagem ou um espaço vazio do dia; vamos descansar do trabalho ou da escola para a discoteca.
É saudável, sem dúvida, o desejo de companhia e o gosto por estarmos ocupados, a música e até o balbucio. Somos gente do mundo e este é o lugar de que gostamos. Precisamos do ruído, do barulho, do balbucio para nos sentirmos vivos. Porém faz também parte da nossa natureza o “recolhimento”, somos seres racionais, os nossos gestos deviam ser pensados; os nossos sentimentos e as nossas acções deviam ser analisados; devíamos avaliar o significado dos acontecimentos; era preciso que forjássemos uma opinião acerca de muitas coisas. Devíamos construir os nossos princípios a partir de dentro, e não a partir de meia dúzia de anúncios.
O silêncio permite-nos ter uma vida por dentro, qualquer coisa que flutua por cima da pressa, da confusão das sensações; qualquer coisa que, para dizer de outra forma, permanece em sossego, como o fundo do mar, muito longe do reboliço superficial das ondas e do vento.
É pelo silêncio que se entra nesse lugar. E era importante que lá entrássemos, porque só assim nos aproximaremos da nossa dimensão humana. Todos devíamos ter um pouco de marinheiro, pastor, os clássicos vizinhos dos grandes horizontes e das estrelas. É dentro de nós que podemos conhecer verdadeiramente o que são as coisas e as pessoas e os acontecimentos. Dentro de nós é que devemos encontrar as sementes do ideal, do sonho nobre, da força para resistir e avançar.
Porque fugimos, então, de estarmos connosco? Por de trás há uma série de razões superficiais, não totalmente verdadeiras, como a falta de tempo, de gosto, de hábito ou paciência, mas contudo existe um único motivo real: Temos muito medo da verdade, receamos pensar naquilo que nos pode complicar a vida.

Joana Carvalho, 11ºD, Escola Secundária de Camões

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