O novo mundo-Capítulo V



73ºDia
Todos andamos tristes, até mesmo o Duarte que parecia não querer ir embora. Nos últimos dias temos estado mais tempos juntos, temos sido mais amigos uns dos outros porque, no fundo, nós não queremos dar-nos mal com ninguém e neste momento precisamos de mais atenção por parte de todos, pois estamos a ficar muito em baixo. Há uns dias decidimos fazer de três em três dias uma pequena festa à noite. Juntamo-nos todos à volta da fonte da “aldeia”e saudamos o facto de termos conseguido sobreviver até agora e de estarmos mais unidos. Isso tem-nos deixado com melhor cara. Mas hoje, não estamos bem. Nós temos noção que não podemos ficar tristes para sempre e por isso é que decidimos aproveitar o tempo da melhor maneira, celebrando a vida com os amigos. Acaba por ser difícil fingir sempre que está tudo bem quando sabemos que, agora, nem tudo é bem assim, quando nos divertimos porque tem mesmo que ser. Mas também entendemos que há dias que temos de parar pensar. E por isso quando alguém precisa de descansar, damos um desconto uns aos outros. Às vezes chegamos a nem falar uns com os outros durante um dia inteiro. Pode não parecer muito mas quando somos só nós, acaba por ser preocupante e triste. Estar dependente das nossas próprias mãos para criar os alimentos, para descobrir o aquecimento, para construir o abrigo é algo que nunca precisámos antes de fazer e arranjar “à mão”. Quando somos um todo como sociedade, as coisas tornam-se mais fáceis de se obter porque todos se ajudam mutuamente. Às vezes posso criticar demasiado a sociedade de fazer o que não está certo, de não fazer o devia por vezes mas, agora, nunca me esqueço de como ela é importante de certa forma e de como útil ela pode ser. Nunca tinha pensado nisto e, agora que não a posso sentir, neste momento que tanto preciso, dou valor a isso. A sociedade não é perfeita nem pode ser. Se assim fosse seria inumana. Precisamos de aprender o que está certo e o que está errado. Na justiça, às vezes, não há argumentos convictos de que um indivíduo que cumpre a pena foi realmente culpado pelo crime de que o acusaram. E este exemplo demonstra que a sociedade não perfeita. Nada na sociedade pode estar completamente correcto para que seja justo para todos. Ela procura obter leis que pelo menos sejam mais justas para a maioria da população mesmo que não seja para toda ela. Nem tudo é justo para todos, infelizmente é uma coisa ainda não é possível, nem sei se algum dia será. Daí mais uma prova da sociedade não ser, e digo mais uma vez, perfeita.
F.G.
80ºDia
A música foi sempre uma coisa que me deixava com as emoções em alta. A música ajudou-me a tomar decisões no passado, ajudou-me a ultrapassar momentos difíceis e noutros momentos aumentou a diversão de festas. A batida da música nos meus ouvidos dá-me energia e força. Sinto muita falta dela. Sinto saudades de ouvir a música que mais prazer ouvir me dava quando chegava a casa depois do trabalho, refiro-me a uma do Bob Marley “One Love”. Digo isto com muita sinceridade, esta música era como uma anestesia para as dores do trabalho. Como eu adorava chegar a casa e dirigir-me à casa de banho e entrar na minha banheira de hidromassagem enquanto colocava um velho gira-discos o meu lindo disco de platina do Bob Marley, na faixa 6, a minha música de eleição. Até me dava mais alegria ir trabalhar no dia a seguir só de saber que quanto mais me esforçasse, mais cansado eu ficava e melhor me sabia aquilo banhinho quente. Pode-se dizer que a minha vida neste aspecto era fabulosa. Realmente tinha tudo aquilo de que precisava, mas, também, tenho noção de que é justo porque sou um trabalhador honesto que se esforçou para ter este emprego e que claro, ainda se esforça, porque, ao fim ao cabo, acabo sempre por ter que trabalhar muito para sobreviver aqui. A única tristeza disto tudo é que não sou recompensado da mesma forma que dantes, infelizmente. Mas talvez nem tudo seja mau nesta situação. Sinto que sou uma pessoa diferente desde que aqui estou. Sinto que já não sou tão tolinho como dantes, sinto que sou mais sério. Não sei se voltarei para casa um dia mas se voltar, prometo que serei melhor pessoa!F.G.
DUARTE
90º Dia

Isto está tudo muito bem planeado. Nem acredito que tudo aquilo que se estudou pudesse dar certo. É incrível como o ser humano se consegue adaptar a estilos de vida completamente diferentes daquilo que estava habituado. O ser humano é incrível, é brilhante, é único, mas é algo tão idiota que até, por vezes, parece mentira quando se pensa no que realmente ele é capaz de fazer. É um ser ambicioso, não confia no instinto facilmente pois é racional e sabe que isso vale muito mais que certos instintos. A minha missão continua a ser encontrar formas de lhes dificultar as situações, foi o que o chefe disse há uma semana. Está a ser empolgante! Um novo planeta! Mas quem diria? A ciência evolui a cada dia que passa e não deixa de ser cada vez mais fascinante. Tenho muito pena que ninguém saiba desta operação. Tenho apenas medo que tudo aquilo que durante anos se estudou e trabalhou não arranje nenhum conflito. Sinceramente, cheira-me que isto vai dar mau resultado e pode originar uma 3ª Guerra Mundial, mas não há-de ser nada se Deus quiser. O Francisco tem falado bastante comigo nos últimos tempos. Noto que ele é boa pessoa e que desde que está aqui tem passado por muito que se lhe diga. É um homem forte, pelo que aparenta ser um bom marido. Ele contou-me que sente imensas saudades de casa, da mulher e dos filhos. Eu tive que lhe mentir, como é óbvio. Não posso dar a entender que a NASA me infiltrou aqui para observar e depois justificar ao departamento, como é que eles se comportam diariamente. É um trabalho árduo porque, infelizmente, não posso ser eu mesmo e tenho muita pena de estar a mentir a esta gente toda mas não tenho outra hipótese. É, na verdade, uma tarefa de grande importância e de grande responsabilidade. Tudo isto porque a NASA encontrou um outro planeta que é praticamente igual à Terra. Chamamos-lhe o mini-planeta Terra porque é ligeiramente mais pequeno. Esta história toda deu-se inicio quando um cientista do departamento da NASA ,que observava rigorosamente os planetas, estudava regularmente um mini-planeta que a cada dia que passava se aproximava imenso da órbita terrestre. Entretanto, desviou-se mesmo para a órbita da Terra com o mesmo período de translação e de rotação. Pensa-se que se originou da mesma forma que a Terra pois tem as características químicas e físicas idênticas. O governo descobriu e propôs uma ideia, já que o planeta Terra estava a entrar num período de furacões muito intensos, terramotos fortíssimos e quedas de chuva que duravam quase uma semana. Digamos que, pessoalmente, não achei correcto que se fosse fazer um projecto destes sem que as próprias pessoas saibam em que situação foram colocadas. Entende-se o motivo, mas não é justo, alguém que tenha sido escolhido através de análises psíquicas, mas que ao menos de forma legal, seja posta desta forma aqui. Nem acredito que o governo tenha proposto isto. A NASA prometeu ao governo que se responsabilizava pela segurança de cada pessoa aqui. Assinando, desta forma, um contrato. Dizem que é uma experiência que até pode dar bom resultado!
Tenho medo, muito medo…
Duarte Oliveira

Beatriz Mendes, 10ºD

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