Oportunidade



Era claro como a água. Aquele momento era claro como a água. E tão libertador como o vento.

Calma, muito calmamente, caminhei pelo areal daquela praia de areias negras e marés revoltas num momento em que as ondas abatiam sobre a costa com todo o seu furor. Aboliam medos, acalmavam revoltas. Transpiravam magia.

Aqueles pés batiam na areia com a força e o peso do mundo. Batiam e faziam-se ouvir em baques sonoros pela revolução da natureza.

O céu claro, quase incolor, parecia querer avisar que ainda não seria aquele o dia em que desabaria sobre o mundo.

Aqueles pés, os que batiam na areia negra, eram os pés mais pesados no mundo, mas não deixavam uma marca diferente daquela que deixavam quaisquer outros no extenso areal que percorreram. Naquela praia vagueei por tempos incontáveis, lágrimas inconsoláveis e por sonhos incansáveis, na certeza de que acabaria, eventualmente, por encontrar algo, talvez remexido por entre os grãos de areia, talvez emaranhado nas algas que a ondulação carregava contra a costa. Algo deixado por alguém naquele preciso local ou algo que por ali apareceu sem razão aparente.

Enfim, algo.

Não tinha a menor ideia do que “algo” era, mas algo era o que procurava desesperadamente.

Porque, por vezes, tudo o que é necessário é alguém que está verdadeiramente assustado para revelar o que sente, apercebendo-se de que tem uma oportunidade que nunca esperava.

Rita Catarina Ramos Amador, 11.ºE

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