As sensações e emoções do outro mundo - Capítulo 1: O outro mundo
Não tenho sentimentos nem emoções, estou há anos e anos nesta casa isolado e raramente vejo os meus pais. Eles estão sempre fora da casa, quase nunca voltam. Quando lhe pergunto «onde vocês vão» ou «quando posso sair da casa» ou mesmo «sair com vocês», eles não me respondam, mudam logo de assunto.
A minha ama, desde que nasci até aos 13 anos, cuidava de mim e tratava-me. Não sei o nome nem os gostos dela, nenhum dado pessoal. Ela era como os meus pais, não me falava, era como se fosse um robô a cumprir os seus deveres. Houve um dia que a minha ama retirou umas tábuas e vidros da janela. Após retirar, foi-se embora. Depois de algum tempo, provavelmente três horas, comecei a ouvir vários tipos de ruídos e sons. Havia um ruído que era muito familiar, reconhecia perfeitamente, adivinhava logo, era um som mais baixo do piano e prolongava-se durante três ou quatro segundos. Outro era como um assobio que percorria tudo à volta da casa. Por fim um ruído que ouvia constantemente, nunca parava e que fazia um som como o que costumo fazer quando uso a água como lavar os dentes e as roupas, o som da água a pingar. Eu tentava-me aproximar desses ruídos até que cheguei à janela e vi o chão coberto por um líquido. Não me atrevi tocar e afastei-me dele. Assim que me virei vi uma carta entre as tábuas que a minha ama retirou. Abri-a e era mesmo da ama.
- Lamento muito, mas já não poderei cuidar mais de ti. Eu gostava tanto falar contigo, mas os teus pais proibiram-me. Gostava que um dia me visitasses assim que tu te sentires totalmente diferente de ti próprio. Até um dia, beijos e abraços da tua ama Marta. PS: A morada está atrás da carta, por isso já sabes =). Era o que dizia a carta.
Não percebi totalmente o que carta dizia: «o que era sentir me totalmente diferente?» E o que é =)? Sentir-me confuso, mas, pela primeira vez, senti que a carta tinha um valor muito importante e decidi guardá-la.
Durante três anos cuidei de mim próprio. Já tinha experiências em como cozinhar, tratar a roupa visto que observava imensas vezes a minha ama a fazer isso. Esses três anos eram iguais a antigamente e não aconteceu nada de especial.
Numa manhã igual a qualquer outra, bateram à porta e deixaram uma carta juntamente com uma caixa. A carta dizia o seguinte:
- Meu filho, após leres esta carta, o teu pai e a tua mãe já não estão neste mundo, por isso sê forte, toma conta de ti próprio e já podes sair da casa. As chaves e o dinheiro estão na caixa. Até nunca. A carta voltou a ser confusa. Voltei a não perceber o que pretendiam dizer “já não estão neste mundo”. Abri a caixa e encontrei ferramentas de bricolage, várias chaves e dinheiro.
Senti pela primeira vez uma sensação diferente, mal podia esperar para sair da casa. Esperei até ao próximo dia e enquanto esperava pensava na carta. Quem é que me mandou a carta juntamente com a caixa, será que foram os meus pais? E esta frase de “já não estão neste mundo” significa que há outro mundo além desta casa em que estou a viver?
Senti-me cansado só de reflectir e decidi dormir para aguardar pelo próximo dia totalmente diferente.
Hoje preparei a mala com as ferramentas que estavam na caixa e umas sandes. Aproximei-me da porta, abri-a lentamente com as chaves que introduzi e pensei: «será que esta porta vai-me conduzir para outro mundo?»
Roberto Li Zhou, 10ºE
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