June - 1. Interlúdio
Isto está a tornar-se absurdo.
Seca.
Mais uma palavra com mais de quatro sílabas a sair da boca daquele homem e eu juro que ninguém sai desta sala com os membros todos.
- … birrefringente …
Pronto, é desta! Só tenho de –
Tem calma, respira…
“Não há outra forma, June. O caso está feio para o teu lado. Se aceitares, o tribunal concorda em não falar disto e anular a tua pena. Não tens outra escolha. É isto ou a roupa às riscas.”
Sinceramente, agora, acho que preferia 70 anos num macaco laranja e preto a isto.
Ando a saltitar de sala em sala na Faculdade de Estudos Gerais há um dia e já estou doida, imaginem até conseguir o que eles querem! “Ainda não decidi o que quero fazer, gostava de conhecer melhor as minhas opções”, disse à directora, para poder assistir a todas estas aulas. Sim senhora, bela desculpa June. Mas desnecessária, tendo em conta que, até agora, não há aqui ninguém que sirva.
Pouco discreto.
Demasiada moral.
Muito imaginativo.
Não, pura e simplesmente.
Era incapaz de olhar para aquele nariz todos os dias…
Burro.
Belos sapatos, mas não.
Um dia à procura e nada. Como e que hei-de fazer o que os engravatadinhos querem sem uma equipa? Não peço muito, só alguém que consiga fazer o trabalho.
Sim, sou a melhor. Mas isto não é trabalho para alguém estúpido o suficiente para pensar que é capaz de o fazer sozinho.
Preciso de um parceiro. Pensei que encontraria um num sítio como este, cheio de mentes inspiradas. Mas estes catedráticos são todos tão…
- Professor, posso? – uma voz perguntou da entrada.
Olhei. Vi. Analisei.
- Vejam só! Se não é o autor da minha mais aguardada tese! Tem feito progressos – o professor monocórdico perguntou-lhe.
Olhou em volta. Viu-me. Sorriu.
- Sim, tenho.
Percebi. Decidi. Sorri.
Oh, finalmente!
O interlúdio acabou.
É hora da caça.
Joana Coelho, 10ºD
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