June - 2. Águas Passadas
O meu trabalho é simples.
Os engravatadinhos vão dizer que têm uma nova funcionária.
A minha família vai pensar que sou uma gestora.
Mas eu sou uma moderadora do sistema.
As pessoas acham que o mundo seria um lugar organizado e perfeito se todos fossem justos e fiéis.
Bem, como de costume, as pessoas não podiam estar mais enganadas.
Se deixada na mão do acaso, a vida seria a loucura, um motim eterno. É para evitar esta situação que o meu emprego existe. E não há muitos como eu, por isso é melhor cuidar-me.
O meu trabalho, ainda assim, não é interferir em vidas individuais. Se bem que isso seria muito mais fácil…
Não. Eu asseguro a justiça no sistema.
Até agora, eu interferia em sistemas pequenos a médios. Um centro comercial que cobra tarifas ilegais às pessoas merece ser assaltado. Um banco alimentar que foi assaltado merece receber uma doação anónima. Uma clínica de emagrecimento que engana os clientes merece um processo judicial e ser fechada. Um assassino que escapa à cadeia por declarar insanidade, merece sofrer um pequeno acidente.
Tudo corria bem até eu ser estúpida e interferir num sistema maior. Sim, aquele banco merecia ver os seus cofres a zero por roubar as pessoas, mas vá-se lá provar isso ao juiz…
E foi essa minha idiotice que me trouxe até aqui.
O tribunal queria deixar-me a ver o mundo às riscas para o resto da vida, mas, aparentemente, alguém importante precisa dos meus serviços. E o governo gosta desse alguém. Ou pelo menos da sua conta bancária.
Esse alguém necessita urgentemente que alguns dos seus adversários comerciais tenham problemas financeiros. Portanto, agora, tudo o que tenho de fazer é repetir a minha idiotice noutro banco. Ou, deverei dizer, noutros bancos?
Mas, desta vez, com alguns fundos, não tenho de o fazer sozinha, nem com o (agora ex) parceiro que deitou tudo a perder da primeira vez e me deixou na mão.
Preciso de uma boa equipa. Inteligentes, astutos, e sem problemas de ética, ou, pelo menos, com uma boa visão a longo prazo. Digamos assim, malta da pesada.
E eu acabara de encontrar o meu primeiro recruta.
Joana Coelho, 10ºD
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