Procuras Obscuras V




Um passo em frente, ando, os postes, à minha frente, acendem-se, desencadeiam a luz neles escondidos, e libertam-na, iluminando o meu caminho, o meu rumo, que sigo, e sigo, e sigo.
Continuando, por este meu rumo, olho as pegadas já deixadas, que sigo, e sigo, e sigo.
Aconchegado nas minhas vestes, o tempo não me preocupa, apenas o caminho que sigo, e sigo, e sigo. Olhando em frente, em nada reparo, apenas em ti, no teu profundo olhar, no teu delicado rosto, e nos teus longos cabelos. Sonhando, aproximo-me, questiono-me, e digo-te:
-Quem és?-
Tudo está escuro, apenas este círculo, o nosso círculo, encontra-se iluminado, iluminado pelo céu estrelado, e o poste desencadeado, de luz. A mais negra cor do espectro, e a junção de todas as outras. O preto, e o branco. São as únicas que transparecem, em loucos contrastes, de iluminação, e escuridão, no entanto, continuo a olhar para ti, para o teu rosto, para o teu olhar, e para os teus cabelos. Sem te conhecer, questiono-me quem és, e após te perguntar, respondes-me, aproximando-te. Eu respondo-te, aproximando-me, o iluminado círculo, diminui o seu pequeno tamanho, pois estamos cada vez mais perto, e a sua única razão de existência, é iluminar-nos. As estrelas, que tanto escondem, o vento, que tanto fala, o céu, que tanto procura, nada, nada existe por aqui, apenas tu existes, talvez por aqui apenas exista o descolorido espectro, os postes, eu, e tu. Talvez, apenas o que tenha um significado, por aqui vagueie, eu e tu, temos significado, por aqui, temos, pois somos os únicos. Apenas um pé nos separa, um pé de escuridão, que eu piso, sem receio. Agora, frente a frente, separados pelo vácuo do tempo, apenas, passo a mão pela tua cara, sinto-a, pela primeira vez, como um espelho, reflectes, em mim, o meu movimento, e passas a tua mão, pela minha cara. Os olhos não fecham, pois o tempo é pouco, e necessito de ti, gravada na minha memória, e apenas os meus olhos conseguem concretizar tal desejo. Não fechas os teus olhos, estarás a pensar no mesmo que eu? Olhando para o teu olhar, nunca falando, já sei tudo, tudo o que necessito de saber, apenas por um, dois, três olhares, tudo sei. Agora, com os olhos, ainda abertos, aproximamo-nos, eliminando a única coisa que nos separava, o vácuo do tempo, e já juntos, segurando suavemente, o teu pescoço, com a minha mão direita, encosto os meus lábios, aos teus, e tu, os teus aos meus. Olho-te agora, finalmente, olhos nos olhos, transponho a minha paixão, para o meu olhar, e observo os teus cintilantes olhos, com o seu notável brilho, não devido a lágrimas, mas sim devido à sua especial existência, tão notória no meu interior. O nosso beijo, prolonga-se, como o ecoar de um grito, na mais enorme profundidade possível. Mas a minha satisfação não está completa, pois ainda não te ouvi dizer:
-Amo-te-
Necessito que o digas, que assombres o meu receio, e o faças ir embora, que ele desapareça. Diz amo-te, ou desaparece apenas. Não desapareças, por favor. Diz amo-te. Diz amo-te. Diz am...
-Ahhh! Onde estou?- Gritei eu, Miguel Massamá, enquanto sentado, no mais alto galho, da mais alta árvore, de toda esta imensa floresta. Há milhares de anos que não adormecia, e ainda há mais milhares, que não sonhava. Mas a noite passada, sem qualquer espécie de aviso, apenas fechei os olhos, adormeci, e deixe-me levar, para um outro mundo, um mundo por dentro deste meu mundo, um mundo ainda mais profundo, que este, e ainda mais obscuro. Questiono-me ainda, o que se passou, penso que sonhei, um sonho, que despertou em mim, sentimentos que nunca havia sentido, sentimentos para além da busca pelo meu objectivo, este sentimento era o de desejo, o desejo por alguém, o desejo por felicidade, o desejo por partilhar a felicidade que procuro, com alguém. Mas, mais uma vez, tudo desapareceu, em fracções de segundo, o sonho acabou, quem seria ela? Quem seria a rapariga do meu sonho, que com apenas um olhar, me encantou, me deixou a desejar por mais, quem seria ela? Agora, em cima deste tão alto galho, permanecerei, não apenas à espera da luz, mas há espera também, de que volte àquele meu mundo, ainda mais profundo, onde posso realmente ser feliz, de um modo, que nunca, nunca, havia conseguido.

Telmo Felgueira, Escola Secundária de Camões, 10ºE

Comentários

Rita e Marta disse…
Inquérito "Juntas não fazemos uma" =D
Participa sff
Ass: Marta

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