Procuras Obscuras VI





Esperando, o tempo passa, esperando o vento pelo céu esvoaça, esperando, a felicidade putrefaça. Tenho esperado, e esperado por ti, mas não existem sinais da tua vinda, talvez não possas, talvez não queiras, talvez, simplesmente, não me desejes, como eu, tanto te desejo. Desde que aqui estou, no mais alto galho, do mais alto tronco, da imensa, e negra, floresta, tenho feito várias buscas, por conhecimento, e sabedoria. Sempre pensei estar aqui sozinho, mas, numa das minhas últimas buscas, encontrei, junto a um lago, um ser idoso, vestindo modestas roupas, que eu não conseguia bem identificar, devido às suas longas barbas brancas, que tapavam, e aqueciam, o seu tronco. Ele era bastante pequeno, chegava-me, literalmente, à barriga, e usava um, peculiarmente interessante, cachimbo, no canto esquerdo, da sua boca. Ao conversar com ele, acabei por descobrir o seu nome, Nostalgia, estranho nome, pensei eu. Após várias horas, de conversa, fiquei fascinado, o seu conhecimento, e a sua sabedoria, eram incalculavelmente vastos. Ele acabou por me falar, de um raro, misterioso, e secreto objecto, que só, e só ele, possuía. Um objecto digno, apenas, dos mais cautelosos observadores. Eu, não pude fingir a minha curiosidade, e logo segui o pequeno, mas grande ser. Ele aproximou-se do enorme lago, junto da sua também modesta casa, e, num piscar de olhos, mergulhou. Eu, assustado, mergulhei também. Ao abrir os olhos, já nas profundezas do lago, fico fascinado, isto não era apenas, o que aparentava ser, era como se tudo tivesse sido milimetricamente construído. A água era tão transparente, que era possível observa cada detalhe, com o máximo pormenor, podia lá passar dias, e dias, a observar, mas não era para isso que aqui estava, Ao continuar o rumo, seguindo o ser idoso, deparamo-nos com uma enorme escadaria, em círculos, mais imensa que a árvore onde habito, consigo apenas avistar o seu início, no fundo do lago, já o seu fim, é, talvez, inalcançável, sei apenas, que não o consigo avistar. Esta escadaria, seria um valente inimigo, para dois cansados viajantes, mas para nós, gloriosos conquistadores da sabedoria, era nada mais, do que um pequeno obstáculo. Um degrau, dois degraus, três degraus, assim, contava eu, a minha subida, pela gigante escadaria circular sem fim, esta, envolvia uma enorme torre no seu centro, que parecia chegar até ao céu. Provavelmente, o último degrau, deve levar-me à entrada, desta tão imensa torre, pensei eu. Continuava a subir, degrau, a degrau, o pequeno, e idoso ser, parecia ainda menos cansado que eu, subia as escadas, pulando, de dois, em dois degraus, cada vez mais estranho ele me parecia, e isso despertava uma enorme curiosidade, no interior da minha mente.
-Vamos, vamos! Mais rápido!- dizia ele, para mim, como se estivéssemos apenas no início. Eu, já quase sem fôlego, perguntei:
-Mas quanto ainda falta?-
Ele não me respondeu, simplesmente começou a pular, de três, em três degraus, de cada vez, talvez estivesse a querer insinuar, que estávamos mais perto. Continuávamos a subir, a imensa escadaria, estávamos já tão alto, que, ao meu lado, pairavam as nuvens, que separam o mundo dos infames caminhadores do solo, do mundo dos gloriosos conquistadores dos céus.
-Sempre a subir, sempre a subir!- dizia o pequeno, e barbudo ser, enquanto soltava baixos, e agudos risos, como se estivesse a fazer pouco do meu cansaço.
Não sei já há quanto tempo estamos a subir a imensa escadaria, mas tendo em conta, que já não é possível avistar o seu início, pois todo o solo está coberto por majestosas nuvens, impossibilitando a minha visão; diria assim, que o número de dias, que aqui estamos, é impossível de contar, usando os dedos das minhas mãos... e pés!
Desde que existo, que tenho vivido, apenas debaixo das sombras, antes das da maldita vila, e agora da das enormes árvores, mas ,agora mesmo, nada me cobre, estou mais alto que tudo, e todos, caminho apenas para o céu, para o infinito, nunca na minha vida, tinha tudo estado tão iluminado, e quanto mais subia, maior era a claridade.
-Olha! Olha bem! Olha bem, com os teus olhos!- disse-me o velho ser.
Ao olhar para cima, nem queria acreditar, avistava finalmente o final da escadaria! Após tanto tempo a subir, o final estava tão perto. Conseguia também avistar a entrada para a torre, o nosso objectivo. O meu objectivo. Continuei a subir a escadaria, sem medos, ultrapassei o velho ser, e quando estava já a subir o último degrau.
-Pára! Pára já rapaz, espera por mim.- gritou-me o velho ser, de alguns degraus abaixo.
Eu, ignorei, subi para o último degrau, estava tudo tão perto, tinha apenas que abrir aquela porta, castanha, rugosa, provavelmente feita dos troncos, da negra floresta. Sem pensar, abri a porta, e entrei tudo. Ao fazer isto, começo a ouvir barulhos, longínquos, parecia que algo se estava a desmoronar. Já dentro da torre, observo o velho ser, a correr, pular, e saltar, pela vida. Só agora percebi. Ao abrir a porta, toda a escadaria começou a desmoronar-se, todos os degraus estavam a cair para o solo dos ignorantes, e com eles, iria também o velho ser. Infelizmente, ele estava demasiado longe para eu o salvar, fechei apenas a porta, e deixei-o morrer, “em paz”. Finalmente poderia contemplar o maravilhoso objecto, de que o velho ser me havia falado, questionava-me o que seria; mais uma porta de madeira me enfrentava, empurrei-a. E ao entrar, naquele quarto, observo, o mais maravilhoso, mais divino, mais perfeito amigo que alguma vez poderia encontrar. O melhor auxílio de busca, de observação, de procura, que eu poderia alguma vez desejar. Era, não apenas um telescópio, mas, sim, O Telescópio, era majestoso, poderia observar o universo inteiro com ele, cada estrela, cada planeta, tudo, tudo estava a um pequeno passo de distância. Além das imensas vantagens d’O Telescópio, ele era também inigualavelmente belo, era amarelo, cor-de-mel, brilhante, mas gasto, de ser tão antigo, imensas são as histórias que ele já devia ter passado. Além disto, o quarto, era simplesmente soberbo, no topo, de toda a torre, onde se situa o quarto, e onde eu estou, existe uma cúpula, a mais bela deste, e de todos os outros mundos. Sentia-me agora, não em casa, mas num bom local. Ainda assim, nada superava a beleza da rapariga do meu sonho, e para isso iria usar O Telescópio, para encontrá-la. Tenho agora todo o poder que necessito, todo, todo o poder, necessito apenas, de encontrá-la, e terei tudo, tudo o que necessito...


Telmo Felgueira, Escola Secundária de Camões, 10ºE

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