Sobre o espelho e o tempo
Passamos toda a vida sem nos conseguirmos ver
a nós próprios. Vemos uma coxa, um
tornozelo. Se nos esticarmos o suficiente, o olhar consegue identificar a
coluna, mas a nossa verdadeira marca identificativa, a cara, ou rosto, ou como
lhe quiserem chamar, está totalmente
invisível aos nossos
olhos. Na penumbra. Pertence ao inalcançável.
Esta ideia parece, à partida, triste, eu sei. Mas, se deixarmos o egoísmo de parte, conseguimos
identificar que gostaríamos
de ter alguma coisa, uma coisa tão
nossa! especialmente guardada para os outros. Ora, se nos é permitido conhecer, a nossa
personalidade, as nossas nádegas,
os nossos cotovelos, os nossos dedos e toda uma cadeia de costelas
sinteticamente organizadas, porque não
deixar um bocado de nós,
um dos mais nossos, para os outros? É
verdade, visto deste prisma, este presente para o próximo, tão inchado de lirismo e expressividade, é um símbolo da nossa compaixão e da nossa solidariedade. Se pensarmos bem, só os cobardes não mostram a cara.
Gonçalo
Dias, 11.º F
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EU NÃO SOU COBARDE
Beatriz