O Cão e a Raposa






                Ofegando, corro na floresta, os pulmões a explodir, a garganta a arder, a lutar pelo que pode ser o meu último sabor de ar. Atiro-me para a água na esperança de me conseguir esconder lá durante um minuto e recuperar o fôlego. Tenho apenas dois minutos, no máximo. Tenho de continuar a correr.
Tinha uma casa boa e confortável. Tinha uma vida feliz. Mas claro, o que é bom nunca dura. Ainda me lembro da pequena quinta. O forno a cozer um frango, a lareira a estalar.
                Oiço gritos à distância. Tenho de ir. Fujo do meu esconderijo e sinto aquele ardor familiar no meu peito a voltar. Esquivo-me dos ramos e salto por cima de um tronco. Oiço um estalo e um zumbido de engrenagens quando salto, mesmo a tempo. Armadilha para ursos. Já ouvi demasiados ossos a estalar e gemidos de agonia. Sei o que acontece. Ter a minha perna presa ali significa morrer.
                Não sei quanto mais consigo correr. O batimento do meu coração está a ecoar nos meus ouvidos. O mundo está a ficar negro. Tropeço e a minha face bate no chão. Tento levantar-me, mas é demasiado tarde. Vejo aqueles olhos castanhos, os olhos que conheço desde sempre. Ri e consigo contar todos aqueles dentes afiados. Fecho os olhos. Sou mordido.
                Éramos os melhores amigos. Como é que acabou assim?


Mariana Negrão, 12.º H


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