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Eu não quero explicar-te. Eu quero-te explicar, porque te quero mais do que quero explicar-te. Entendes? É necessário – para uma total compreensão um do outro, usarmos as palavras a nosso favor (já que não há gestos que me permitam “dizer” o que te quero explicar). Mudamos um pouco a gramática, a favor do escritor – Fernando Pessoa.
Quero-te explicar esta minha incontinência sentimental, percebes? É importante dizer-te as minhas teorias… Por exemplo, achas que foi a ocasião que nos levou a apaixonar? Imagina, se eu não tivesse olhado para ti no momento X, nem tu, ou então tivesses olhado no momento Y… Assim concluímos que somos um conjunto (foleiro) de situações. Como um acaso. Mas o amor parece demasiado “destinado”, não é? Portanto, eu penso que, talvez, não seja a ocasião que nos faz olhar para a pessoa, e simplesmente qualquer ocasião nos faria olha-la.
Quero-te explicar que, neste mundo, não estamos destinados a um “amor para a vida”. Acredito que, neste mundo, haverá para aí umas três ou quatro pessoas que se encaixam connosco – Aristófanes, com a teoria da meia laranja. Tu eras a metade, eu outra metade, e depois era como um origami – a brincadeira ou a arte de nos desdobrarmos um no outro.
Quero-te explicar que tal deixou de ser sustentável, pois alguma coisa entre nós se tornou insuportável. Não tem problema, até o amor é reciclável. Reutilizável. Infelizmente, as palavras são um meio, independentes de qual o fim (seja eu, tu, ou ele, ou ela). E se a dialética se esgotar (às vezes as palavras repetidas podem esgotar-nos), sobram sempre os gestos. Gestos esses que não explicam nada, mas, bem ensaiados, são queridos – eu quero-te.
O meu avô diz que o afeto se esgota, que é necessário guardá-lo. Eu não concordo. Por isso, quero-te explicar, primeiro porque te quero, e, só depois, porque é necessário que, tal como a gramática se adequa, também o “para ti”. ‘Pra ti-tu, ‘pra ti-outro.


Mariana Gomes, 12.º H

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