Quem sabe esperar sabe viver
A mim nunca ninguém me disse, mas
mostraram-me. Parece que a espera é o único tempo livre que há. E a liberdade
tanto é uma melhor amiga como se vira contra nós disfarçadamente.
Espera-se antes de aparecer,
antes de acontecer. Espera-se o entretenimento. Ontem esperei por ti. Dei uma
volta completa ao campo Pequeno, contei os passos em volta. Dei duas. Só para
verificar se o número era igual. E, claro, para esperar, que já nem me lembro
que número calhou. Eu já sabia o tempo que ali ia ficar, mas recusei-me a
deitá-lo ao ar, vê-lo pairar e finalmente cair e desaparecer. Mesmo que
estivesse a contar passos, não estaria se não estivesse à tua espera. Em vez de
atirar o tempo ao ar e olhá-lo a descer ao chão, brinquei um pouco com ele até
se ir embora deste mundo. Foi para onde está todo o tempo perdido e ganho, todo
junto.
Ainda assim são alturas de
solidão estes pedaços soltos entre tempos. Uma boa espera é confidente nos
únicos momentos que estamos realmente sós. Na espera não há nada de
obrigatório. Só a alguns sabe bem esperar. A quem não se sente incomodado com a
própria presença, que nestes momentos é tão pesada. Quem sabe esperar sabe
viver.
Margarida Honório, 12.º F
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