Procuras Obscuras VII



Um, dois, três, quatro... setecentos e três mil, setecentos e quatro mil, setecentos e cinco mil... Os dias passavam, sem parecer retornar. Eu esperava, sem em nada pensar. Pensava apenas na linha temporal, que me liderava a mim, e ao meu caminho. Com uma pequena lasca de pedra, riscava a parede do meu “quarto”, fazendo símbolos, de modo a organizar os dias infinitos da minha vida. Sentia-me tal qual um prisioneiro, vivendo o seu dia-a-dia na prisão, enjaulado como um animal, sem razão alguma para viver, ou sequer querer. Sobrevivendo apenas, sobrevivendo ao passar dos dias. A minha prisão era o meu quarto, por muito belo que este fosse, não passava então desta mera prisão.
Todos estes dias passados, olhando pelo óculo d’O Telescópio, tentando buscar a constelação do desejo, tudo foi um simples desperdício. Hoje acordei, sim, pois ontem dormi, e, hoje, nasci novamente. Não procurarei mais a rapariga do meu sonho, irei parar de tentar controlar a minha vida, pois assim é ela quem toma controlo de mim. Irei deixá-la criar o meu próprio rumo, irei deixá-la guiar-me por verdades desconhecidas, e, talvez, talvez encontre finalmente um verdadeiro significado para a minha existência. Não serei mais um na multidão, pois eu estarei lá porque quero, não por não querer saber. Sinto dentro de mim o aflorar do desejo de retornar às minhas origens, de voltar à minha vila, à minha maldita vila.
Recordo-me agora do pequeno velho que assassinei, por razão nenhuma, pois a sua suposta causa não existe mais, tenho realmente de começar de novo, e o melhor início é um novo princípio. Levando apenas o que tenho vestido, e os meus binóculos, abro a porta da imensa torre. Ainda dentro dela, consigo avistar pela porta todo o mundo lá fora. Retiro os ditos binóculos, para me conseguir localizar em relação à vila, pois todos os tantos caminhos, que segui para aqui chegar, tiraram-me todo e qualquer sentido de orientação que eu pudesse ter. Tentando avistar a vila, reparo numa enorme nuvem negra, densa, pairando sobre algo, algo que parece uma cidade. Será esta negra cidade a antiga maldita vila? Milhares de anos passaram, estupidez minha pensar que ela permaneceria igual. O desejo que há pouco me consumia, ainda mais cresce com esta descoberta. Como seria agora a maldita vila? Um novo mundo espera-me. Uma nova vida. Um novo começo.

Telmo Felgueira, 10º E

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