Velho Hamlet

Sempre me lembro
O teu fixo olhar
Compenetrado na caveira dos amores
Dos amores já perdidos

No continente submerso, navegamos de canoa
Por mares verdes, e árvores virentes
Observávamos cachorros de rua
Procurando apenas um lar
A impossibilidade de desviar o nosso olhar

Perdidos no nada
À procura do tudo
Deitados no chão
Perguntado então:
Será tudo isto uma guerra?

Saltámos da janela
Com as roupas mais dispendiosas que tínhamos
Enquanto que na superfície
Gritava o homem das longas barbas:
“Três tiros por um dólar, ganhe uma boneca de verdade!”
Ninguém compreendia, ninguém alguma vez se atreveria

O pequeno barco continuava a navegar
Nas águas escuras, e florestas enormes
Ouvindo apenas baixos sussurros de criaturas da noite
Uma bolha enorme, não de sabão, não de água
Não deste mundo

Uma bolha enorme de tudo, estava à nossa frente
E então, aproximava-se o fim, e sempre gritava o homem de barbas:
“Velho Hamlet! Velho Hamlet! Velho Hamlet...”

Telmo Felgueira, 10ªE